Era óbvio que Renoir estava blefando.
Talvez, se fosse o verdadeiro Renoir, tivesse o poder e a vontade de derrubar o Ministério.
Mas o atual não possuía nenhum dos dois.
Se fosse apenas contra os aurores, ele poderia acabar com tudo em segundos.
Mas bastava olhar para a varinha nas mãos de Dumbledore para entender o que o impedia.
Dumbledore jamais deixaria o Ministério ruir.
Não por piedade.
Mas por pragmatismo.
Se o prédio desabasse, o caos tomaria o mundo bruxo britânico. E, inevitavelmente, seria Alvo Dumbledore o responsável por restaurar a ordem.
Renoir só queria que o ministro entendesse uma coisa, diferente de Dumbledore, que tinha paciência para lidar com política, ele preferia simplesmente derrubar a mesa.
Ele achou que Dumbledore perceberia o blefe, como nos velhos tempos, quando eles poderiam se comunicar com olhares.
Mas parecia que cinquenta anos tinham apagado aquela conexão silenciosa que os dois compartilhavam.
'Agora preciso sair dessa situação constrangedora... no estilo Renoir. Com elegância.' Pensou, respirando fundo.
Dumbledore o observava em silêncio.
Após ouvir as palavras ameaçadoras, ele havia sacado a varinha por instinto.
Mas logo percebeu que algo não se encaixava.
Renoir não parecia disposto a atacar.
Era só uma pressão calculada.
"Ele está apenas jogando com as palavras."
Dumbledore analisou cada gesto, cada respiração. E então entendeu.
Ele pareceu que nunca teve a intenção real de destruir o Ministério.
O último olhar de Renoir confirmou isso.
Um blefe.
Mas algo ainda chamava atenção.
O Renoir que Dumbledore conheceu jamais blefava.
Quando dizia que faria algo, ele fazia.
Aquele homem era direto, sem artifícios.
'Ele parece estar com pressa...' Pensou Dumbledore.
'A instabilidade do gommage talvez não seja emocional...'
O clima pesava no ar, prestes a explodir, quando um som ecoou pelo corredor principal.
Passos apressados, muitos deles.
Todos se voltaram para o grande portão.
Um grupo de bruxos surgiu carregando caixas pesadas e um enorme quadro envolto em camadas de proteção mágica.
A pintura retratava uma floresta rosada, etérea, onde uma única pétala vermelha flutuava no centro, viva, como se tivesse acabado de ser pintada.
Na borda inferior, uma frase prateada brilhava sob a luz do átrio.
"Para aqueles que virão."
A pintura emanava uma energia inconfundível.
Para olhos comuns, era apenas uma obra belíssima.
Mas quem sentia o Chroma sabia.
Ali dentro havia camadas sobre camadas de selos mágicos entrelaçados, formando a estrutura de um pequeno mundo.
Assim como a Tela, a Pintura Cromática também continha dois fragmentos de alma: um de Renoir... e outro de Aline.
Os carregadores estavam exaustos.
Tinta manchava suas roupas, e as mãos tremiam. Mesmo assim, não ousavam deixar as caixas ou a pintura cair.
À frente deles caminhava um homem velho, de cabelos longos e brancos.
Olhos castanhos, cansados, mas cheios de respeito.
George FitzRoy.
Ele era um funcionário antigo do Ministério.
Cinquenta anos atrás, havia sido transformado em estátua pelo mesmo feitiço de Renoir.
Desde então, manteve um respeito silencioso pelo Artífice.
George não era ninguém importante. Apenas um líder menor do Departamento de Transporte.
Mas, ironicamente, foi ele o escolhido para conduzir os pertences de Renoir.
Momentos antes, ele e sua equipe haviam sido pegos pelo gommage.
Quando a petrificação cessou, George foi o primeiro a reagir.
"Se qualquer uma dessas coisas for danificada, as consequências serão muito piores do que sermos transformados em estátuas de tinta."
Bastou isso para que todos compreendessem a gravidade da situação.
"Quanto mais rápido levarmos tudo, mais rápido poderemos sair daqui." Completou ele.
Mesmo trêmulos, obedeceram.
Caminharam até Renoir e deixaram as caixas no chão, com extremo cuidado.
George respirou fundo e se virou para o Renoir.
"Peço desculpas pela intromissão, senhor Artífice. Aqui estão seus pertences. Tudo catalogado por tamanho e categoria."
Depois olhou para Fudge.
"Ministro, completamos a tarefa designada. Eu e meus colegas gostaríamos de pedir o resto do dia de folga."
Os demais carregadores assentiram, esperançosos.
Fudge, Amélia e até Dumbledore o observaram surpresos.
Rufus Scrimgeour cruzou os braços, avaliando a situação, vendo o silêncio constrangedor de Fudge, ele falou.
"Acho que o ministro concordará em dar a vocês até três dias de folga."
Fudge piscou, confuso, e então respondeu rapidamente.
"Ah, sim! Sim, claro. Vocês trabalharam muito. Três dias de folga, sem dúvida alguma."
Não respondeu por bondade, mas por medo.
Desde o momento que a pintura havia chegado, Renoir perdeu todo o ar ameaçador e voltou a exalar apenas tranquilidade.
Os aurores e funcionários observavam em silêncio.
Alguns também pensaram em pedir folga, mas ninguém ousou se aproximar.
Renoir observou o salão por um instante.
A presença de George havia quebrado a tensão que dominava o átrio.
Os olhares apreensivos agora se voltavam para o velho funcionário, e não mais para Renoir.
Foi um pequeno desvio de atenção, quase imperceptível, mas Renoir percebeu imediatamente.
Aquele instante de respiro, aquela brecha sutil entre a tensão e o alívio, era tudo o que ele precisava.
Ele percebeu que aquele era o momento perfeito para encerrar todo o assunto e sair com elegância.
Renoir endireitou o corpo, ajustou levemente a respiração e bateu a bengala no chão.
Tum!
O silêncio se espalhou novamente.
Renoir deu um passo à frente e falou com tranquilidade. Ele olhou para o nome 'George K. FiztRoy' no crachá.
"Eu agradeço, senhor FiztRoy."
Sua voz ecoou por todo o átrio, com uma nota limpa e serena.
Então com um simples movimento de mão, uma imensa tela branca se formou acima das caixas e da pintura Cromática.
O espaço pareceu se curvar ao redor dela.
Um vórtice silencioso girou lentamente, absorvendo tudo. Caixas, pintura, fragmentos de tinta, até o resquício de magia suspenso no ar.
Em poucos segundos, tudo desapareceu.
A tela se dissolveu como fumaça, deixando apenas a calma.
"Vamos considerar este assunto encerrado." Disse Renoir, voltando-se para Fudge. Inclinou-se levemente. "Peço desculpas por qualquer incômodo."
Sem nenhum gesto de arrogância, nenhuma palavra desnecessária.
Ele se virou para Dumbledore.
"Estarei saindo primeiro, Alvo. Venha me visitar qualquer dia."
"Será um prazer, Renoir." Respondeu Dumbledore, com um leve sorriso.
Renoir assentiu.
E mesmo no meio das inúmeras barreiras anti-aparatação do ministério, o Artífice simplesmente desapareceu.
Dumbledore observou o ponto onde Renoir havia sumido e murmurou, com um tom de humor.
"Isso acabou sendo mais fácil do que pensei."
*****
Quando Renoir reapareceu, o ar estava diferente. Frio, úmido, com o perfume distante das vinhas ao entardecer.
Por um instante, ele apenas ficou parado diante da porta da mansão Dessendre, sentindo o vento tocar o rosto. A tensão do Ministério parecia ter se dissolvido completamente, como se nunca tivesse existido.
"Isso acabou sendo mais fácil do que imaginei." Disse Renoir em voz baixa, deixando escapar um suspiro aliviado.
Era raro um problema se resolver sem precisar de um segundo ato. Ele realmente esperava resistência, debates, talvez até um duelo.
Mas, no fim, tudo terminou com gommage, um feitiço de congelamento simples, um pedido de desculpas e uma leve reverência.
Ao entrar na mansão, foi recebido pelo som leve de páginas sendo viradas.
No centro da sala, sobre uma pilha de almofadas, Noco estava deitado de bruços, lendo atentamente um livro enorme.
Noco já havia percebido sua presença.
"Já voltou, Renoir?"
Renoir arqueou uma sobrancelha.
"Vejo que encontrou algo para se distrair."
Noco fechou o livro com cuidado e exibiu a capa. O título era 'Árvores Antigas, Molduras Novas'.
Noco inicialmente queria um livro sobre como cuidar da mansão, mas depois de procurar no quarto de Renoir por um tempo, ele encontrou esse livro e acabou achando muito mais interessante.
"Descobri porque Aline estava sempre cuidando dos cedros."
Renoir não pôde evitar um leve sorriso.
"Claro que descobriu."
Mesmo à distância, Noco havia sentido o Chroma de Renoir se aproximando, o que demonstrava uma sensibilidade rara, mesmo para uma criatura criada com tinta viva.
"Conseguiu resolver tudo?" Perguntou o pequeno, inclinando a cabeça.
"Mais ou menos." Renoir retirou o sobretudo e sentou-se na poltrona próxima à lareira.
Na frente de Noco, ele não precisa fingir ser o antigo Renoir.
Quando ele reencarnou no corpo de Renoir, Noco como um dos companheiros e amigo ao longo dos séculos, percebeu na hora que aquele não era mais o Renoir.
Na época, Noco perguntou curioso.
"Você não é Renoir, mas a essência ainda é de Renoir. Quem você é?"
A resposta foi simples.
"Eu sou um Renoir diferente."
Foi tudo que Noco precisou.
Renoir ainda era Renoir, só que um pouco diferente.
[Missão Concluída: A Fúria do Artífice]
[Recompensa: Picto de Vitalidade Melhorada]
[Suas ações causaram grandes impactos no mundo mágico. Principalmente no mundo mágico britânico e francês. A recompensa bônus foi melhorada.
Recompensa Bônus: Cartão de Expedição x1
Detalhes: Cartão de Expedição precisa recarregar por um ano para ser usado. A escolha do destino da expedição é aleatório e uma missão é gerada baseada no mundo específico]
No instante seguinte, um objeto de metal surgiu diante dele, flutuando sobre a palma da mão.
A luz pulsava suavemente, como se respirasse.
Era um pequeno círculo de metal, do tamanho de uma moeda grande. A superfície era fria e lisa.
No centro, um símbolo quase apagado refletia a luz de um jeito estranho, como se o metal guardasse algo gravado além do que os olhos podiam ver.
"Picto: Vitalidade Melhorada." Murmurou Renoir.
Ele estendeu o dedo e tocou.
Uma corrente quente percorreu o corpo, dissolvendo o cansaço que ainda restava. Seus músculos pareciam mais firmes, e o fluxo do Chroma, mais fluido.
Logo em seguida, uma tela azul translúcida surgiu diante de seus olhos.
[Status do Personagem]
Nome: Renoir Lucien Dessendre
Nível: 53
Classe: Artífice
Afiliação: Nenhuma
Local Atual: Mansão Dessendre
Atributos Principais
Chroma: 99999
Resiliência Mental: Muito Alta
Afinidade Elemental: Escuridão / Luz / Tinta
• Força: 154
• Intelecto: 429
• Vontade: 321
• Destreza: 376
• Presença: 320
Pictos Ativos [1/3]
1. Vitalidade Melhorada: Aumenta a energia vital e acelera a regeneração natural.
Status de Lumina: 0%
2. Vazio
3. Vazio
[....]
"Finalmente um perfil de status."
O sistema expedicionário lhe deu apenas duas funcionalidades, que eram o menu de missões e o inventário. Agora, ele tem a função status também.
Renoir observou os detalhes com atenção.
Havia três espaços principais para pictos, dois ainda vazios.
O recém-adquirido ocupava o primeiro espaço. Embaixo havia uma pequena barra cinza em 0%.
"Então é isso..." murmurou. "A barra para transformar pictos em luminas. Invenção de Gustave."
No jogo, ele lembrava bem, quando um picto era utilizado quatro vezes em batalhas, sua energia se condensava e ele se transformava em uma lumina, uma versão nerfada, porém livre para equipar sem gastar espaço de pictos.
"Na vida real, ao invés de precisar de quatro batalhas, talvez seja necessário um período de tempo específico... quatro meses, talvez?"
Ele cruzou as pernas, apoiando o queixo sobre a mão, enquanto analisava as informações flutuantes.
Noco o observava com atenção, curioso.
"Renoir está pensando muito de novo. Isso é bom ou ruim?"
Renoir sorriu, sem tirar os olhos da tela.
"Muito bom na verdade."
A tela de energia azul dissolveu-se lentamente no ar, e a mansão voltou ao seu habitual silêncio.
Renoir fechou os olhos por um momento, deixando o corpo relaxar na poltrona.
"Não vamos trazer os outros também?" Perguntou o gestral.
Antes de fugir da Tela, Renoir havia salvado várias criações suas e de Aline. Monoco, Esquie, François, Golgra…
No jogo, esses seres haviam sido pintados por Verso, mas ali, eles pertenciam aos dois.
"Bom, não podemos trazer todos de uma vez," respondeu Renoir, com calma. "Mas Monoco, Esquie e François estão bem."
