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Chapter 2 - Capítulo 2: Infiltração

O esgoto nível 7 fedia a podridão química, o lodo viscoso agarrando-se às botas de Kira e Taka enquanto avançavam pelo túnel escuro, iluminado apenas por filetes de neon vazando das rachaduras no concreto corroído. O ar úmido carregava um gosto acre de ferrugem e resíduos de nanitos descartados, irritando as narinas de Kira. Seu jammer zumbia baixo, um pulso constante que cegava os scanners da NeuroTech, mas o silêncio entre os dois era cortado apenas pelo chapinhar dos passos e pelo clique metálico do rifle Gauss de Taka.

A trilha-rede, traçando o labirinto em sua visão augmentada com um mapa holográfico, mapeava os túneis até uma entrada de serviço esquecida da torre NeuroTech. "Três minutos até o ponto de acesso", sibilou ela pelo link neural, dedos dançando em gestos invisíveis para testar as defesas digitais próximas.

O homem de cromo, ajustando a mochila magnética cheia de granadas de pulso, grunhiu em resposta, ombro biônico roçando a parede úmida. "Se tiver guardas ciborgues, deixa comigo. Só mantém esses firewalls fora do meu caminho", disse, voz rouca, o som do aço real de sua arma ecoando como um desafio.

Chegaram a uma câmara selada, onde um portão reforçado de titânio bloqueava o caminho, seu painel pulsando com luzes vermelhas de segurança quântica. Kira se agachou, conectando um cabo neural ao terminal, o formigamento elétrico subindo por sua espinha enquanto invadia o sistema.

"Defesas nível 5. NeuroTech não brinca", murmurou, olhos vidrados enquanto o código fluía como sombras líquidas em sua interface neural.

"Porta aberta", anunciou ela, o portão rangendo com um gemido hidráulico, revelando um corredor industrial que descia ao subsolo da torre. O cheiro de ozônio queimado se intensificou, misturado ao zumbido grave de servidores, como um coração mecânico sob pressão.

O mercenário biônico avançou primeiro, rifle erguido, músculos cromados reluzindo sob as luzes fluorescentes. "Fica atrás", grunhiu, lançando uma granada de pulso que explodiu em faíscas silenciosas, desativando drones sentinelas antes que seus lasers ativassem. O estalo de seus projéteis reais ecoou, um contraste bruto com os pulsos etéreos de Kira.

A hacker deslizou atrás dele, desarmando câmeras ocultas com um hack preciso, seus movimentos fluidos como um espectro digital. "Entrada principal à frente. Dois guardas ciborgues, sensores térmicos ativos", alertou pelo link neural, enquanto Taka carregava outra granada, o peso do cromo firme em suas mãos.

"Silêncio agora, Taka", sibilou Kira, voz cortante pelo link. "Quero isso limpo. Fica de guarda, só atira se for inevitável. Vou pros servidores."

Taka lançou um olhar de lado, olhos vermelhos brilhando na penumbra. "Silêncio não é meu estilo, Voss", grunhiu baixo, mas assentiu, postando-se na esquina do corredor, ombro biônico contra a parede. "Qualquer coisa se mexer, te aviso. Vai."

Kira avançou sozinha, quase invisível sob o disfarce holográfico, o jammer pulsando contra alarmes. O corredor descia a uma câmara de servidores, painéis pretos brilhando com LEDs verdes, o zumbido quântico vibrando em seus dentes. O ar gelado da ventilação arrepiava sua pele, misturado ao cheiro metálico de circuitos superaquecidos.

Conectou o cabo neural ao console principal, o choque elétrico percorrendo seu corpo enquanto invadia o núcleo da NeuroTech. Dados fluíam em sua visão — fluxos do "Dimensões Despedaçadas", esquemas de portais multiversais, alertas de segurança pulsando como batidas cardíacas. "Estou dentro", sussurrou pelo link, navegando firewalls como um espectro.

Os arquivos do "Dimensões Despedaçadas" se abriram, e imagens de realidades paralelas inundaram sua mente: um Neo-Tóquio sob um céu limpo, com árvores orgânicas entre ruínas; outro com cidades de pedra, livres de corpes; um terceiro de oceanos de luz líquida, habitado por entidades de energia pura. Cada visão era um golpe de esperança e medo, a promessa de um mundo além do veneno.

"Taka, você já pensou...", murmurou ela pelo link, sua voz uma rachadura no código frio. "Mundos onde não somos escravos de chips e neon. Eu vejo eles. Estão aqui."

Taka, ainda na guarda, rifle firme contra o ombro, respondeu seco: "Foco, Voss. Sonhos não matam Corps. Alguma ameaça nos servidores?" O clique do gatilho ecoou pelo link, um lembrete gélido de sua praticidade, cortando a vulnerabilidade dela como uma lâmina.

Kira voltou ao fluxo, as imagens a perseguindo. Extraiu os protocolos de ativação, injetando o vírus para colapsar o sistema. "Vírus implantado", sibilou, desconectando o cabo com um estalo. O zumbido dos servidores acelerou, como se a torre sentisse a ameaça. "Saindo agora."

Ela deslizou de volta pelo corredor, fundindo-se às sombras, mas ao chegar à esquina onde deixou Taka, o ar gelou em seu peito. Cinco guardas ciborgues da NeuroTech, exoesqueletos reluzindo com LEDs vermelhos, apontavam rifles de plasma para ela, visores sem emoção travados em sua posição. No centro, um sexto guarda segurava Taka, pistola de pulso magnética chiando contra sua têmpora tatuada.

"Desligue o jammer, Voss", rosnou o guarda, voz metálica amplificada por um modulador. "Ou seu amigo vira sucata." Taka, imobilizado, olhos vermelhos piscando fúria contida, grunhiu baixo: "Não faça, Kira. Termine o plano."

Kira, coração híbrido disparando, hesitou, os dedos pairando sobre o implante neural. O vírus estava ativo, mas precisava de tempo para alcançar o núcleo do "Dimensões Despedaçadas".

A visão de um céu de verdade tremeluziu, mas o cano na cabeça de Taka era mais real. "Taka...", murmurou, voz falhando pelo link.

"Não. Faça. Isso", Taka rosnou, músculos biônicos tensos. Mas os olhos de Kira encontraram os dele, e a culpa — memórias verdadeiras ou falsas — a engoliu. Ela não podia perder outro aliado. Não de novo.

Com um movimento lento, ela desativou o jammer, o zumbido morrendo em um silêncio sufocante. Os guardas avançaram, algemas magnéticas travando seus pulsos, o metal gelado mordendo sua pele augmentada, cada clique das algemas ecoando como uma traição à sua missão. "Boa escolha, traidora", disse o guarda líder, enquanto outro soltava Taka, empurrando-o para o lado como se fosse descartável.

Taka se endireitou, o cromo de seus braços brilhando sob a luz fraca. Acendeu um cigarro eletrônico, o vapor azul subindo em espirais lentas, e fixou os olhos vermelhos em Kira, um olhar frio que cortava mais fundo que as algemas. "Deveria ter inicializado o vírus, Voss", disse, voz grave, sem traço da camaradagem de antes, cada palavra uma facada na confiança que ela depositara nele.

Uma porta blindada no corredor se abriu com um silvo hidráulico, e uma figura emergiu: o CEO da NeuroTech, Hiroshi Vex, esguio, com implantes faciais de platina e olhos brilhando com dados em tempo real. Seu sorriso era uma lâmina afiada. "Obrigado por trazer o chip até nós, Kira", disse, voz suave como veneno. "Os servidores? Isolados. Seu vírus? Um glitch inofensivo preso em uma sandbox."

A traição de Taka atingiu Kira como um choque neural, o peso da revelação esmagando sua esperança. Ele era um agente da NeuroTech o tempo todo, cada granada, cada palavra, uma armadilha para levá-la até ali. A visão de um céu de verdade desmoronou, substituída pela dor crua de mais uma confiança quebrada, a memória de sua equipe apagada pela Synthara agora misturada à traição de seu único aliado.

Taka pegou seu rifle Gauss do chão, o clique do aço real ecoando no corredor. Sem hesitar, girou a arma e golpeou a lateral da cabeça de Kira com a coronha, o impacto explodindo em sua visão como um curto-circuito. "Nada pessoal, Voss. Só negócios", disse ele, enquanto a escuridão a engolia, o sonho de um mundo sem neon desvanecendo em estática.

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