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Chapter 146 - Capítulo 146 – A Humanidade Contra Deus

O retorno de Vernasha à realidade não foi uma simples transição — foi uma violação cósmica. O tecido do espaço se rompeu com um gemido angustiado, rasgando-se em um arco de luz dourada podre e cinza estagnado, como a ferida gangrenada de um deus. A Imperatriz do Caos emergiu do vórtice, seu corpo desprendendo últimos fios de escuridão pura do abismo onde, momentos antes, havia precipitado Mei Nuhay — um ato de desprezo final, lançar o Coração do Sol no caldeirão infinito de demônios e não-seres.

O mundo que a recebeu não era um campo de batalha. Era um cadáver planetário.

O céu havia sido esfolado, deixando para trás uma massa opressora de fumaça ácida e cinzas radioativas geradas pelo absimo que giravam lentamente, sufocando os últimos raios de um sol moribundo. O ar, espesso e pesado, carregava o cheiro metálico e agressivo de sangue divino queimado, misturado ao ozônio acre de relâmpagos que haviam morrido no meio do estrondo. Tudo que um dia pulsara com vida — a energia latente do solo, o fluxo das correntes espirituais — agora se contorcia em agonia silenciosa, um espasmo final congelado no tempo.

Vernasha deu dois passos à frente. Seus pés, calçados em sandálias de um material que parecia feito de noite solidificada, pousaram sobre um solo que ainda tremia de febre terminal. Ela franziu o cenho, uma expressão de poder supremo cruzando seus traços perfeitos e implacáveis.

— Que fumaça irritante… — resmungou, a voz um sopro desdenhoso que pareceu fazer as próprias partículas de ar recuarem.

Ela ergueu as mãos diante do rosto, os dedos longos e pálidos unindo-se em um gesto despretensioso, quase mundano.

Estalou os dedos.

O som que se seguiu não foi um estalo comum. Foi uma detonação seca e profunda que se propagou como um terremoto sônico, reverberando através dos quilômetros de devastação, fazendo os escombros flutuantes vibrar como dentes rangendo. A onda de força pura, invisível e absoluta, expandiu-se a partir dela.

E a fumaça… desintegrou-se.

Não se dissipou ao vento. Fragmentou-se em incontáveis pedaços minúsculos e brilhantes, como se alguém tivesse quebrado um espelho gigante feito de fuligem. Os fragmentos prateados piscaram uma vez, emitindo um tilintar cristalino e agonizante, antes de se desvanecerem no nada. Revelado, o campo de extermínio surgiu em toda sua horrível glória: rochas monumentais pairando no ar, desafiando a gravidade em silêncio; a própria realidade ondulando como a superfície de um lago envenenado; e, no epicentro de todo aquele colapso, sentado sobre os destroços de uma coluna que outrora fora parte de algo maior…

Tekio.

Imóvel. Silencioso como a morte que ele carregava nos olhos.

E seu olhar… fixo nela. Não era simplesmente vermelho. Era um carmesim profundo e fervilhante, a cor do ódio purificado, do sangue antigo prometido em vingança, como se toda a fúria de uma linhagem esquecida tivesse finalmente encontrado seu vaso e seu alvo.

Vernasha parou. E então, seus lábios se curvaram.

Era um sorriso. Um sorriso que misturava a crueldade absorta de uma criança que arranca asas de insetos com a curiosidade intelectual de um cientista diante de uma anomalia fascinante.

— Que lindo… — sussurrou, a voz um mel aveludado que contrastava brutalmente com o cenário apocalíptico. Os olhos bicolores — um dourado de sol corrupto, um cinza de cinzas eternas — brilharam com interesse genuíno. — Um simples garoto mortal… me olhando com tanto ódio que quase dá para tocá-lo.

Ela deu um passo adiante, o movimento fluido e inexorável como o avanço da maré. A voz deslizou pelo ar envenenado, cada palavra uma agulha de gelo envenenada buscando a jugular da sanidade.

— Você está triste? Incomodado? Porque eu esmaguei, despedacei e apaguei algumas dessas formiguinhas barulhentas que você chamava de aliados? — Uma risada suave, musical e horripilante, escapou de seus lábios. — Ah, Tekio, querido… acalme esse coraçãozinho turbulento. A morte é a grande equalizadora. Quando você deixa de existir, não sente saudades. Não sente dor. Não sente nada. Portanto, tecnicamente, tanto você quanto eles estão perfeitamente bem agora. Não seja tão apegado a esses invólucros efêmeros de carne e a esses ecos passageiros que chamam de vozes.

As palavras não foram apenas ditas; foram gravadas a fogo no ar, deixando rastros fosforescentes de energia negativa que sibilavam antes de se dissipar. Eram conceitos de puro niilismo, armas filosóficas projetadas para corroer a vontade, para envenenar a razão de lutar.

Tekio não respondeu. Nem um músculo se moveu em seu rosto impassível. Nem um tremor em suas mãos espalmadas sobre os joelhos.

Mas o ar ao seu redor… começou a engrossar. A se distorcer como o asfalto sob um calor intenso. O vácuo parecia chiar em protesto.

Vernasha ergueu uma sobrancelha perfeita, um lampejo de diversão irônica em seus olhos.

— Vai ficar aí, feito uma estátua de mármore e rancor? — perguntou, inclinando a cabeça para o lado com um gesto quase felino. — Olha, pelo que vasculhei nas memórias rasgadas de Dante e nos devaneios podres de Hazau, você fica consideravelmente mais interessante quando está com raiva. Uma fera liberada. Então, o que aconteceu? — Ela deu outro passo, lenta e deliberadamente, a energia saindo de seu corpo em ondas quase palpáveis que faziam o chão gemer e rachar em padrões geométricos perfeitos e alienígenas. — Finalmente percebeu a futilidade? Entendeu, no fundo da sua alma de inseto, que não se pode ferir, muito menos matar, um deus?

Sua voz era um mel fluido e doce, mas cada sílaba carregava um veneno que corroía a própria realidade ao seu redor, fazendo as cores desbotarem e os sons se abafarem.

Mas então, Vernasha parou novamente.

Seu olhar bicolor — o dourado que prometia ruína, o cinza que sussurrava esquecimento — fixou-se mais uma vez no carmesim absoluto de Tekio. E algo naquele olhar, naquela quietude antinatural, fez com que um frio minúsculo e desconhecido riscasse o núcleo de sua divindade arrogante.

Não era medo. Nunca poderia ser.

Não era ódio puro. Isso ela entendia, era um velho conhecido.

Era algo… mais profundo. Mais antigo. Algo que não tinha lugar no espectro emocional de um ser humano. Era a calma do abismo prestes a engolir a estrela, a paciência da terra que sabe que irá cobrir o cadáver do conquistador. Era uma certeza que desafiava sua própria onipotência percebida.

Ela estreitou os olhos, uma ruga quase imperceptível aparecendo entre suas sobrancelhas.

— Eu não consigo te decifrar, Tekio — admitiu, e pela primeira vez, um sutil, quase inaudível, toque de frustração contaminou sua voz serena. — Não compreendo o mecanismo. Como você, um produto de carne e sonhos falhos, conseguiu incubar e desenvolver uma essência antiabismo dentro do próprio corpo. Um anticorpo cósmico. Como você se moveu através do Véu do Abismo, o tecido da minha própria origem, e não apenas sobreviveu, mas… emergiu alterado. Isso… — ela fez uma pausa, escolhendo a palavra com cuidado — … me inquieta.

Então, a luz começou a emanar de suas mãos abertas. Não era a luz quente do sol ou o brilho mágico de um feitiço. Era uma essência branca, translúcida e viva, que parecia sugar o calor do mundo ao redor. A luz do Vazio Purificado.

— Mas, diante do nível de poder que reivindico agora, nenhum mistério importa. — Ela sussurrou, a voz agora reduzida a um sopro carregado de destino. — Posso apagar você, sua história, seu paradoxo e o eco do seu nome com um simples gesto. — Vernasha ergueu a mão direita, a palma voltada para Tekio, a essência branca concentrando-se em um ponto cegante. — Imediatamente após coletar o que vim buscar, é claro.

Seu olhar perdeu-se por um momento no vazio além de Tekio, buscando, farejando uma conexão espectral — o rastro adormecido de Yara, a consciência divina que repousava como uma pérola no oceano tenebroso de sua alma.

— Parece que a pequena deusa ainda reluta em despertar… — murmurou, mais para si mesma. — Muito bem. Vou ter que desmontar você, Tekio. Camada por camada, memória por memória, usando a própria essência de Haruto que eu roubei. Vou decodificar sua existência até encontrar o núcleo dela.

A luz branca em sua mão intensificou-se, lançando sombras nítidas e grotescas sobre o campo devastado, iluminando cada fissura, cada fragmento de desespero.

E Tekio, finalmente, moveu-se.

Foi um movimento tão lento, tão deliberado, que parecia desafiar a passagem do tempo. Primeiro, os dedos que estavam relaxados sobre seus joelhos fecharam-se, as juntas rangendo com um som de pedras se quebrando. Depois, seus ombros se tensionaram, os músculos das costas se delineando sob a roupa rasgada. Ele se levantou. Não com um salto, não com um ímpeto furioso, mas com a solenidade lenta e pesada de uma montanha erguendo-se do fundo do mar.

Seu olhar nunca vacilou, nunca deixou os olhos dela.

E a aura carmesim ao seu redor… começou a pulsar. A vibrar com uma frequência irregular, caótica, como se um coração colossal batesse em pânico dentro de seu peito, como se algo antigo e aprisionado estivesse arranhando as paredes de sua alma, tentando se libertar.

Vernasha sorriu, uma expressão de piedade condescendente.

— Você ainda nutre esperança? Ainda quer tentar? — Uma risada baixa e cheia de dó escapou-lhe. — É tão… pateticamente humano.

E então —

— KRRAK-BOOM!

O som não foi um estrondo comum. Foi a explosão curta, seca e agudíssima de uma violência contida que encontra sua libertação. O som de uma barreira de som sendo perfurada, de espaço sendo violado por um projétil movido por ódio puro e precisão implacável.

O impacto foi brutal, visceral, uma obra-prima de destruição focada.

A cabeça de Vernasha foi arremessada para a frente com força de catapulta. Um clarão carmesim — não do projétil, mas de seu próprio sangue divino sendo incendiado pelo impacto — irrompeu no ponto de contato, na nuca, logo abaixo da linha do cabelo. Um craqueamento úmido e horrível, como o de um ovo de pedra sendo esmagado, ecoou. Seu crânio, forjado em densidade divina, não se despedaçou, mas rachou, uma teia de fissuras luminosas se espalhando por um instante antes de serem engolidas pela escuridão do ferimento.

O sangue dela — um líquido espesso, pesado, que brilhava com uma luz interna âmbar e negra — jorrou. Não um filete, mas uma cascata. Escorreu pelas curvas de seu pescoço, pelas vértebras expostas e reluzentes, encharcou suas vestes sagradas e espirrou para trás em um arco grotesco e lento, pintando os destroços atrás dela em tons de carmesim profano. O sangue respingou e caiu em gotas pesadas, cada uma batendo no chão com um toc metálico, como se fossem esferas de metal fundido.

O mundo parou. O próprio ar pareceu prender a respiração.

Ela piscou, uma vez, duas vezes. A confusão foi um véu rápido em seus olhos antes de se dissipar, substituída por um foco gelado. Lentamente, com um movimento que fez os ossos de seu pescoço rangeram em protesto, ela girou a cabeça.

Atrás dela, a poeira e os restos da fumaça dissipada ergueram-se novamente, agitados por uma nova presença. Um vulto se delineou contra o horizonte de fogo e ruína. Não era grande. Não era flamejante. Era uma silhueta humana, ajoelhada, com um equipamento alongado e sinistro apoiado no ombro — um rifle de precisão de cano longo, com miras que brilhavam com um azul frio.

Clique-clack.

O som metálico, preciso, quase obscenamente mundano, do ferrolho sendo puxado para ejetar um estojo fumegante e recarregar outra bala de pura aniquilação.

Vernasha levou a mão à parte de trás da cabeça. Seus dedos encontraram o calor viscoso e pulsante do próprio sangue, o buraco úmido e horrível onde a carne divina tentava, e falhava, se regenerar. Ela trouxe os dedos à frente dos olhos, observando o líquido luminoso e escuro que pingava de suas pontas.

Seus lábios se curvaram. Não em um gemido, não em um rosnado de dor. Em um sorriso. Lento, meditativo, quase divertido.

— Hm… — murmurou, a voz um pouco rouca, como se estivesse descobrindo um sabor novo e interessante. — Então… é assim?

Seu olhar, carregado de um interesse renovado e perverso, pousou em Tekio, ainda imóvel como uma estátua de ódio, e então voltou-se para o horizonte, para a figura do atirador.

O vento soprou, um suspiro agonizante do mundo moribundo, carregando consigo o cheiro agudo e limpo de pólvora de alta qualidade e o ozônio metálico do sangue divino derramado.

E Vernasha, a Deusa que havia estrangulado um sol e escarrado suas cinzas no abismo, sorriu mais uma vez.

— A humanidade… — disse, em um tom baixo, contemplativo, quase uma constatação filosófica. — Está atacando um deus. Com… balas. Que lindo ato de rebeldia patética.

Ela ergueu a mão devagar, como se estudasse um fenômeno natural raro. O toque frio de seus próprios dedos encontrou novamente o sangue quente que escorria pela nuca. Olhou para a mancha carmesim e âmbar em sua pele imaculada — e sorriu. Um sorriso que não continha um pingo de raiva, nem um centelha de dor. Apenas o desprezo infinito de um gigante que percebeu que uma formiga conseguiu, por um milésimo de segundo, arranhar seu calcanhar.

Mas o segundo disparo chegou antes que seu sorriso se completasse.

Depois, o terceiro.

O quarto.

O quinto.

E então, dezenas.

Não foi uma rajada caótica. Foi uma sinfonia. Uma orquestra bem ensaiada da aniquilação. Rifles de diferentes calibres, posicionados em pontos estratégicos entre os escombros, rugiram em uníssono quase perfeito. O som das balas cortando o ar transformou-se em um coro infernal — um assobio ultrassônico que se tornava um CRAC visceral no momento do impacto.

Cada projétil encontrava seu alvo com precisão cirúrgica. Ombros, clavículas, abdômen, coluna, membros. Cada impacto fazia o corpo divino de Vernasha estremecer, cambalear, recuar sob o martelar constante de projéteis feitos não para matar humanos, mas para perfurar blindagens espirituais. Os estalos ressoavam como marteladas em uma forja celestial, golpeando ferro divino incandescente. O sangue — agora uma mistura de negro profundo, vermelho vivo e âmbar brilhante — jorrava em arcos cada vez mais amplos, manchando o solo carbonizado e as vestes outrora imaculadas da deusa em padrões de um horror sacro.

Ela não caiu.

Não emitiu um único grito.

Apenas curvou-se por um instante, seu corpo se contorcendo em uma dança grotesca sob a chuva de metal, ofegando entre os sons de rasgão de carne divina e o impacto seco de projéteis encontrando resistência sobrenatural. O ar ao seu redor ficou turvo com uma névoa de seu próprio sangue atomizado.

Então, lentamente, como um titã se reerguendo após um terremoto, ela levantou o rosto novamente. Sangue escorria de um corte no lábio, de um rasgo na testa. Seus olhos bicolores, no entanto, ardiam. Não com dor, mas com uma fúria fria e, por baixo dela, um fascínio perturbador e genuíno.

— É… — ela cuspiu um cuspe de sangue negro, sua voz um sibilar rouco. — … só isso? — O sorriso que surgiu então era amplo, desgrenhado, beirando a loucura extática. — Esse é o grande plano? Balas? Contra um poder que transcende matéria, energia e conceito?

As feridas em seu corpo pulsaram, brilhando por dentro. O sangue que jorrava começou a… retroceder. Como um filme sendo rebobinado, os jatos líquidos inverteram seu curso, recolhendo-se aos ferimentos. A carne dilacerada estremeceu e começou a se recompor, fechando-se com um som úmido e repugnante de tecido se regenerando em alta velocidade. Os ossos rangiam ao se realinhar. Em menos de dez segundos, as marcas dos projéteis haviam desaparecido, deixando para trás apenas a pele imaculada, manchada de sangue seco.

Ela estava intacta. Perfeitamente, insultuosamente intacta.

Tekio continuava imóvel. Frio como o espaço entre as estrelas. Seus olhos carmesins não haviam se desviado nem por um segundo, fixos nela como se ela fosse alvo de um míssil. As faíscas carmesins que ondulavam ao redor de seu corpo agora se agitavam com mais violência, formando uma tempestade silenciosa e contida de poder cru.

Vernasha girou o pescoço, fazendo os ossos estalarem em uma demonstração de desafio. Sua voz elevou-se, não em um grito, mas em um decreto que ecoou pelo campo de batalha silenciado, endereçado a Tekio, ao atirador, a qualquer alma que ousasse ouvir:

— É INÚTIL! VOCÊS NÃO PODEM FERIR, MUITO MENOS DESTRUIR, AQUILO QUE TRANSCENDE A PRÓPRIA NOÇÃO DE EXISTÊNCIA!

Lá atrás, no alto de uma pilha de escombros que outrora fora uma torre de vigia, Elise ejetou o carregador vazio de seu rifle principal com um movimento brusco. O metal quente caiu no chão com um clank. Ela encaixou um novo, o som do ferrolho sendo armado foi rápido e decisivo. O vento trouxe até ela o cheiro intenso de ferro, pólvora e o dulçor nauseante do sangue divino. Sem tirar os olhos do visor, seus lábios finos se moveram, sussurrando palavras que o vento não poderia carregar, mas que foram sentidas no núcleo de sua determinação:

— Cala a boca, sua deusa de merda.

Vernasha, então, estendeu a mão para o espaço à sua frente. Não em um gesto de ataque, mas de reivindicação.

O ar começou a chiar. O espaço ao redor de seus dedos começou a… rachar. Fendas negras, finas como fios de cabelo mas profundas como buracos de minhoca, irradiaram-se de sua mão, cortando a realidade como se ela fosse uma pintura frágil em um vidro. O som era de mil vidraças sendo trincadas ao mesmo tempo, um coro de quebra que falava de dimensões se partindo.

— Vou te mostrar, Tekio… — sua voz tornou-se um sussurro íntimo e aterrorizante, — … apenas uma fração infinitesimal do que eu verdadeiramente sou. A diferença entre um raio de luz e o sol que o cria. Entre um sopro e o furacão.

Mas, no exato instante em que o poder dimensional começou a convergir em sua palma, algo se quebrou dentro dela.

Não foi uma dor física. Foi uma falha sistêmica. Um apagão espiritual.

A visão de Vernasha turvou-se por um segundo, o mundo duplicando-se em imagens fantasmas. O fluxo constante e infinito de poder que vinha do Abismo, que era tão natural para ela quanto respirar, hesitou. Vacilou. Como um coração que pula uma batida.

O pulso concentrado de energia em sua mão desfez-se em fagulhas inócuas que se apagaram com um chiado decepcionante.

Um suor frio, um fenômeno que seu corpo divino nunca deveria experimentar, brotou em sua testa, escorrendo pelas têmporas. O chão sólido sob seus pés pareceu ceder, tornando-se instável como areia movediça. Ela deu um passo para trás, cambaleante, um movimento desequilibrado e mortalmente humano. Sua respiração, antes imperceptível, tornou-se irregular, ofegante.

— O que… — ela murmurou, a voz perdeu a serenidade, tornando-se áspera, quebrada por uma confusão genuína. — … é isso?

E então, Tekio demonstrou uma reação.

Seus olhos, que haviam sido piscos de fogo carmesim estáticos, arregalaram-se por uma fração de segundo. Todo o seu corpo, antes uma estátua de ódio contido, entrou em uma postura de combate tão instantânea que pareceu um truque de luz — um fotograma faltando entre o repouso e a ação.

Ele moveu-se.

Não foi velocidade. Foi a negação da distância.

O ar estilhaçou-se com um estrondo sônico. O mundo explodiu em um clarão de luz carmesim tão intenso que ofuscou por um momento os próprios fogos da devastação ao redor.

Em um piscar de olhos — menos que um piscar de olhos, no vácuo entre um instante e o outro — ele estava diante dela.

O primeiro soco não foi um golpe. Foi um evento cataclísmico localizado.

O punho de Tekio, envolto em um vórtice de energia carmesim que distorcia a luz, atingiu o abdômen de Vernasha. O som foi ensurdecedor — um BOOM profundo e úmido que não parecia vir do impacto, mas do próprio espaço sendo compactado e depois explodindo para fora. O ar rachou em padrões concêntricos visíveis. Fragmentos de energia pura, lascas da própria força vital de Vernasha, foram arrancados e lançados em todas as direções como estilhaços de uma estrela em colapso.

Ela não voou para trás. O impacto foi tão concentrado, tão brutal, que a prendeu no lugar por uma fração de segundo, todo o seu corpo distendendo-se em volta do punho antes de ser lançada com força titânica.

Mas não houve tempo para voar.

Porque veio o segundo soco. Um gancho que a encontrou no ar, estilhaçando costelas com um estalo seco e horrível.

Depois um terceiro. Um chute que dobrou seu joelho para o lado errado com um snap gutural.

Cotoveladas que perfuraram como lanças, encontrando a clavícula, o plexo solar.

Joelhadas que elevavam seu corpo apenas para que outro golpe o arremessasse para baixo.

Era uma tempestade. Uma coreografia de pura, bruta e precisa fúria. Cada ataque não era apenas força física amplificada ao extremo; era carregado com a essência carmesim antiabismo. Cada golpe perfurava não só a carne divina, mas a própria escuridão que a sustentava. A energia de Tekio agia como ácido no tecido espiritual de Vernasha, queimando, corroendo, negando.

Ela tentou reagir — um lampejo de poder tentou se erguer em seus olhos, um contra-ataque instintivo começou a se formar em sua mão. Mas seus próprios pensamentos eram uma confusão de estática dor. "Como ele…? A velocidade… o poder… não está nos registros… não está em lugar nenhum!"

O punho final de Tekio nesta série, um direto curto e devastador, perfurou-lhe o estômago com a precisão de um cirurgião da morte.

O sangue — agora um jato grosso, quente e pulsante de líquido divino corrompido — jorrou, atingindo o rosto impassível de Tekio, escorrendo por seu queixo. O gosto metálico e amargo, misturado com o sabor do próprio poder sendo dilacerado, encheu a boca de Vernasha.

E pela primeira vez desde que emergira das sombras primordiais, desde que ascendeu além dos conceitos de vida e morte…

Vernasha sentiu Medo.

Não o medo da extinção — ela ainda acreditava, em algum núcleo de sua arrogância, que isso era impossível.

Era o medo ancestral, primitivo, que corria como um rio negro nas veias de Dante, que sussurrava nas alucinações de Hazau, o pavor que todo ser tocado e corrompido pelo Abismo carregava em seu código espiritual mais profundo. O medo do Caçador. Do Antídoto.

Ela finalmente entendeu, em um lampejo de claridade aterrorizante, o que estava diante dela.

Tekio não era um humano com poder.

Ele era uma Função. Uma Lei viva. Um paradoxo ambulante forjado para ser o equilíbrio final. A arma definitiva concebida pela própria ordem do cosmos para caçar e aniquilar o desequilíbrio que ela, Vernasha, personificava.

Ele era o Eclipse feito carne.

E o Abismo dentro dela — todo o poder do vazio que ela comandava — tremeu.

Tekio rugiu.

Não foi um grito humano. Foi um som animal, visceral, que vinha das profundezas da terra e dos ecos do espaço. Um rugido que era ao mesmo tempo um trovão e o silêncio que o segue.

— ECLIPSE CARMESIM!

 

A energia não explodiu. Ela implodiu primeiro, sugando toda a luz, todo o som, todo o calor do imediato ao redor, criando um micro-vácuo de escuridão absoluta por um instante — e então, explodiu para fora.

O punho final, o catalisador, atingiu o rosto de Vernasha não com a força de um golpe, mas com o peso de uma condenação cósmica. O mundo não brilhou em vermelho. Ele tornou-se vermelho. Uma onda carmesim, sólida como um tsunami de sangue cristalizado, irradiou do ponto de impacto. O ar se dobrou, estilhaçado. O chão rachou em milhares de fissuras que se aprofundaram por quilômetros, como se o planeta estivesse gritando.

E o impacto foi tão absurdo, tão além de qualquer escala, que o corpo de Vernasha não foi simplesmente arremessado. Foi apagado daquele ponto do espaço.

Ela desapareceu, varrida pelo clarão carmesim consumidor, seu corpo transformado em um projétil divino que atravessou fileiras de escombros, colunas monumentais, muralhas de energia fossilizada — tudo se desintegrando em seu caminho como teia de aranha diante de uma erupção vulcânica. Ela sumiu no horizonte de destruição, engolfada pela luz do eclipse que ela mesma ajudara a criar.

E Tekio permaneceu.

No epicentro da aniquilação, ofegante, seu peito subindo e descerendo em movimentos espasmódicos. Seu corpo estava coberto de sangue — o dela, e talvez um pouco do seu, que escorria de fissuras na pele causadas pelo estresse extremo de conter tal poder. A luz carmesim ainda o envolvia, pulsando de forma irregular, um coração de fúria celestial batendo em um ritmo perigosamente instável.

Ele era um eclipse vivo. A quietude no centro da tempestade que ele próprio gerara. O silêncio que prometia o fim de todas as coisas.

O silêncio que se seguiu ao impacto do Eclipse Carmesim era de um tipo diferente. Não era a ausência de som, mas a sua negação. Era como se o mundo tivesse ficado surdo, seus tímpanos rompidos pela magnitude do rugido final. As ondas de energia carmesim ainda vibravam pelo campo devastado, um zumbido fantasma que fazia os fragmentos de pedra pairantes tremerem e a realidade distorcida ondular em padrões hipnóticos e lentos, como se o próprio tecido do espaço tentasse se lembrar da violência que sofrera e estivesse em choque.

Entre os destroços fumegantes, a uma distância que seria considerada impossível para qualquer ser que não fosse divino, algo se moveu.

Um tremor. Depois outro.

Vernasha.

Ela não se ergueu. Arrastou-se. Seu corpo, outrora a personificação da graça e do poder absolutos, era agora um trapo ensanguentado e quebrado. Suas vestes, irreconhecíveis. Sua pele, antes imaculada, estava crivada de queimaduras espirituais da cor do ódio de Tekio e de cortes profundos que não sangravam mais — o sangue divino parecia ter se esgotado, ou recuado para o núcleo de seu ser. Ela cambaleou, tentando encontrar apoio em uma rocha carbonizada, seus dedos escorregando no material vitrificado. As pernas, uma com o joelho ainda visivelmente deslocado, tremiam sob seu peso.

Sua mente era um turbilhão de náusea viva. Pensamentos se fragmentavam antes de se formarem. "Por quê? Como?"O chão sob seus pés parecia ceder, não fisicamente, mas conceitualmente, como se a própria lei da gravidade duvidasse de seu direito de permanecer em pé. A gravidade do mundo parecia aumentada, puxando-a não para o centro do planeta, mas para um vazio pessoal de fracasso.

Ela tentou focar. O ar entrava em seus pulmões com dificuldade, um som áspero e ofegante que a envergonhava profundamente.

— Foi… Tekio? — ela murmurou para a poeira, a voz um fio rouco e quebrado. — Não… ele só… entrou em contato comigo depois… é impossível… a interrupção veio antes…

Com um gemido de esforço que a fez tremer, ela levou a mão trêmula ao próprio abdômen, onde a dor era uma fornalha latejante. O tecido espiritual ali pulsava de forma doentia, infeccionado pela energia carmesim. E então, como um raio de lucidez perfurando a névoa do choque, ela se lembrou.

As balas.

Os projéteis mundanos, ridículos, insultuosos.

Seu corpo ainda os continha. Não como corpos estranhos físicos — sua regeneração havia expelido o metal — mas como fantasmas. Como impressões energéticas, resíduos espirituais dos projéteis que haviam perfurado sua barreira divina. Fragmentos minúsculos de intenção humana pura — intenção de matar um deus — que se alojaram como farpas no fluxo do seu poder, como pedras em uma engrenagem celestial. Ela sentiu, em um nível profundo e assustador, que as "balas" ainda estavam lá, vibrando, ressoando com uma frequência que… bloqueava algo. Interferia na conexão.

— Não… não expulsei todas… — a constatação saiu como um sussurro aterrorizado. — Elas… grudaram…

Vernasha respirou fundo, um movimento que lhe custou uma onda de dor aguda. Ela tentou forçar o corpo a reagir, a chamar o poder dimensional que era sua assinatura, sua arma mais básica.

Nada. Um vazio silencioso onde deveria haver um oceano de força.

Ela tentou o espaço — para se teletransportar, para dobrar a realidade ao seu redor. Inerte. Morto.

As rachaduras na realidade, as fendas negras que eram suas garras no mundo… elas não respondiam. Era como tentar mover um membro amputado.

O pânico, frio e racional, começou a se instalar. Mas então, em um ato de desespero, ela não buscou o poder externo. Buscou o interno. A técnica de Fenra, a aceleração celular e espiritual que permitia a regeneração e o fluxo sobre-humano de energia. Ela se concentrou nos resquícios de poder que ainda fervilhavam em seu núcleo, ignorando as farpas espirituais, tentando canalizar um filete, apenas um filete…

Algo respondeu.

Lento. Grosso. Doloroso como empurrar agulhas por dentro das veias.

Mas respondeu. Uma centelha de calor percorreu seus membos frios. A perna deslocada estalou, realinhando-se com um grito abafado de sua parte.

— Eu… ainda posso… me mover… — ela sussurrou, e pela primeira vez desde o primeiro soco, um lampejo de foco, de determinação feroz, acendeu-se em seus olhos devastados.

Mas a determinação nasceu e morreu no mesmo instante.

Porque dois clarões atravessaram a cortina de poeira e fumaça baixa que ainda pairva no ar.

Não eram clarões de energia. Eram movimentos. Silhuetas se projetando com velocidade que fazia o ar uivar.

Um pela esquerda. Outro pela direita.

Trajetórias perfeitas, predatórias, implacáveis.

Dois punhos. Envoltos não em aura, mas em luvas.

A luva da esquerda era negra como o vácuo entre galáxias, e dela pulsavam, com um brilho agonizante, runas brancas que pareciam queimadas na superfície, como marcas de um ferro em brasa. A da direita era um dourado opaco, fragmentado, como ouro antigo quebrado e remendado com luz pura, e dela emanava um calor seco e purificador.

O impacto que se seguiu não teve a grandiosidade cósmica do Eclipse Carmesim. Foi mais íntimo. Mais pessoal. Mais violento.

Os dois punhos, em perfeita sincronia, atingiram o rosto de Vernasha de lados opostos.

O som foi seco, pesado, final — o som de dois martelos de forja atingindo a mesma bigorna ao mesmo tempo. A força foi suficiente para dobrar o espaço ao redor de sua cabeça em uma distorção visível, um halo de ar comprimido que estourou para fora.

O crânio de Vernasha, já fragilizado, emitiu um rangido profundo. Seu corpo não foi arremessado; foi torcido no ar, girando em um eixo impossível antes de ser lançado como um trapo contra uma parede de destroços de concreto e aço retorcido. O impacto abriu uma cratera na estrutura, e seu corpo rasgou um sulco profundo no chão por metros, até parar, de bruços, em uma poeira de fragmentos.

O eco dos golpes ainda ressoava, misturando-se ao tinido dos fragmentos de metal caindo, quando as sombras se moveram novamente.

Não houve tempo para pensar, para respirar, para sentir dor.

A próxima ofensiva veio do alto — um salto preciso, um chute descendente que não buscava lançar, mas esmagar. O calcanhar, envolto na luva dourada, atingiu suas costas com força suficiente para rachar o solo sob seu corpo, afundando-a alguns centímetros na terra compactada.

Vernasha reagiu. O instinto de uma guerreira que atravessou eras falou mais alto que o choque. Ela rolou para o lado, o movimento desengonçado mas eficaz, bloqueando o próximo soco — um direto da luva negra — com o antebraço. O impacto fez seus ossos tremerem até o ombro, mas ela usou o momentum, girando o corpo em um chute baixo e rápido que visava os joelhos do atacante à sua esquerda.

O combate degenerou em puro, bruto, primitivo instinto.

Mano a mano. À queima-roupa.

Golpes secos, sem floreios, visando pontos vitais com eficiência brutal. Velocidade insana, mas controlada — a velocidade de predadores que caçam juntos há uma vida.

E o fato mais aterrorizante, mais humilhante para Vernasha, era que…

Ela estava apanhando.

Cada bloqueio seu era meio segundo tarde. Cada contra-ataque era desviado ou absorvido. Cada impacto que ela recebia distorcia sua visão, enchia sua boca com o gosto doce e metálico do sangue espiritual. O efeito de cada soco era quase o mesmo do poder de Tekio: uma onda de negação que atravessava sua defesa espiritual e ferria o núcleo Abissal dentro dela.

Era impossível.

Eles não tinham poder para isso. Ela havia avaliado. Dan era força bruta temperada com técnica. Stella era potencial bruto buscando forma. Nenhum dos dois possuía a assinatura antiabismo, a maldição do Eclipse.

Então, como?

O chão tremeu quando ela, encurralada, desesperada, forçou para fora uma onda de energia pura do pouco que conseguira reunir. Não foi um ataque direcionado, mas uma explosão de repulsa, um grito de poder que emanou de seu corpo como uma onda de choque circular.

— SAIAM DE PERTO DE MIM!

O ar congelou.

Literalmente.

A essência de Kael, o fragmento de poder do Inverno Eterno que ela assimilou, emergiu de seu núcleo em um último ato de desespero. Um frio antinatural, que não era ausência de calor, mas a *negação ativa* do conceito de calor, espalhou-se em todas as direções. O ar trincou, formando cristais de gelo negro no vácuo. Uma explosão silenciosa, branca e azul, varreu a poeira, dissipou a fumaça e limpou o campo em um raio de cinquenta metros, revelando a devastação em detalhes cristalinos e gélidos.

As sombras que a atacavam recuaram, saltando para trás para evitar o núcleo do frio absoluto.

E pela primeira vez desde o início dessa nova onda de agonia, Vernasha os viu com clareza.

Dan e Stella.

Lado a lado, em posição de combate, ofegantes, o vapor de sua respiração congelando instantaneamente no ar gélido. Mas firmes. Inabaláveis.

O olhar de Dan era de uma frieza que rivalizava com o inverno que ela conjurara — a frieza de um homem que decidiu se tornar a parede entre o mundo e o abismo. O de Stella era uma determinação ardente, purificada no fogo de sua própria luz agora domada — a vontade de quem se recusa a ser vítima, de quem pega o fardo e o transforma em arma.

E nas mãos deles, as luvas.

Na mão direita de Dan, a luva negra cobria seu punho e antebraço até o cotovelo. A matéria era opaca, devoradora de luz, e as runas brancas que pulsavam nela não eram adornos — eram selos, e pareciam gritar de agonia contida. Na mão esquerda de Stella, a luva dourada, de um material que parecia feito de luz solidificada e quebrada, remendada com filamentos de energia pura. E nas pontas de cada uma, envolvendo os nós dos dedos, havia uma estrutura de metal negro — um "soco inglês" espiritual, cravado com a mesma substância opaca das balas que a atingiram.

Vernasha estreitou os olhos, a mente — agora clara pelo frio e pela adrenalina — trabalhando furiosamente, tentando conectar os pontos, desvendar o mistério. O sangue escorria de um corte em seu lábio, congelando em um filete rubro no queixo.

— Não é… possível… — ela sussurrou, a voz um arrasto áspero contra o silêncio gélido. Ergueu a cabeça, seu olhar oscilando entre a fúria cega e um fascínio horrível e intelectualmente cativante. — Como… estão me ferindo… assim?

Eles não eram fortes o suficiente. Ela havia calculado, medido, previsto.

Não deveriam ser capazes.

E, no entanto, cada soco deles, cada impacto, causava um curto-circuito em seu ser espiritual. Cada golpe vibrava com uma ressonância familiar, odiosa… a ressonância do poder de Tekio. Era como se o Eclipse Carmesim, sua essência antiabismo, tivesse sido destilada, impregnada naquelas luvas, tornando cada soco uma injeção microscópica de aniquilação no seu sistema divino.

Vernasha tocou o lábio partido, sentindo o sangue quente contrastar com o frio do ar. O olhar dela, agora, era pura perplexidade mesclada com uma raiva que começava a ferver, a ameaçar transbordar o caldeirão de seu desprezo.

— Que porra… — a palavra, vulgar, mundana, saiu de seus lábios divinos com um peso de blasfêmia cósmica, — … vocês são?

Do outro lado do campo gelado, Dan fechou o punho. A luva negra emitiu um rangido baixo, e as runas brancas brilharam um pouco mais, como se alimentadas por sua determinação.

Stella avançou um passo, plantando os pés no solo congelado. A luva dourada em sua mão cintilou, fragmentos de luz dançando como estrelas presas.

As duas luvas, uma negra e uma dourada, pulsaram em perfeita sincronia — uma dualidade de escuridão e luz, unidas em um único propósito.

E, pela primeira vez desde que o combate começara, desde que as balas a atingiram, desde que o Eclipse a varreu…

Vernasha sentiu seu corpo — seu corpo divino, imortal, transcendente — fraquejar de verdade. Não pela dor. Mas pelo esgotamento do próprio conceito que a sustentava, corroído por dentro por uma veneno para o qual ela não tinha antídoto.

E no fundo de seus olhos, por trás da fúria e da arrogância, um novo sentimento, estranho e terrível, começou a nascer.

A dúvida.

Continua...

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