O calor havia se dissipado, mas o ar ainda ardia.
Kaien permanecia no centro da praça, cercado por ruínas e ecos. O chão sob seus pés estava trincado em círculos concêntricos, como se o próprio solo tivesse respondido ao peso de sua presença. Ao redor, os corpos desacordados de Oven e Daifuku jaziam entre pedras fumegantes. Smoothie, ajoelhada, tentava se erguer, mas seus músculos tremiam — não de dor, mas de reverência.
Acima, o céu parecia mais baixo. As nuvens, imóveis. O tempo, suspenso.
Kaien respirou fundo.
O Solar Axe vibrava em suas costas, não como arma, mas como extensão de sua vontade. O Haki de Armamento pulsava em ondas fundidas — seis, sete, agora oito. Cada uma mais densa. Mais precisa. Mais viva.
Ele fechou os olhos.
"Não é força. É ritmo."
O mundo ao redor não era cenário. Era partitura. E Kaien, naquele instante, não era apenas um guerreiro. Era o condutor.
Ele avançou.
Smoothie tentou interceptar. Seu corpo, ainda ampliado pela absorção, moveu-se com lentidão. A espada drenava a umidade do ar, buscando sustento. Mas Kaien já não estava ali.
Com um passo, ele desapareceu.
Soru.
Apareceu atrás dela.
O machado girou.
"Pulso Cortante."
A onda de Haki de Armamento foi liberada em forma de meia-lua. Invisível aos olhos comuns, mas sentida como um trovão interno. A lâmina de pressão atravessou o ar, atingindo Smoothie no ombro. Ela foi lançada contra uma parede distante, o impacto reverberando por toda a praça.
Kaien não olhou para trás.
Ele caminhava.
O Solar Axe começou a vibrar com uma frequência diferente. O Haki de Armamento se condensava na lâmina, mas não se expandia em círculos. Ele se alongava. Se moldava.
Kaien ergueu o machado.
"Pulso Ascendente."
O Haki foi lançado à distância.
E então, ele tomou forma.
Um dragão.
Não feito de fogo. Nem de luz. Mas de pressão. De intenção. De ritmo.
A criatura serpenteava pelo ar, feita de ondas fundidas, cada escama uma batida, cada curva uma nota. Era a manifestação da técnica — o ápice do Pulso Pulsante.
O dragão avançou.
Atravessou a praça em silêncio. Passou sobre os corpos caídos. Subiu em espiral. E então mergulhou.
O impacto foi absoluto.
O prédio onde Smoothie havia caído desabou. As janelas estouraram. As pedras se partiram. A terra tremeu.
Kaien permaneceu imóvel.
O dragão se desfez em partículas de Haki, que flutuaram no ar como poeira dourada.
Ele olhou para o alto do palácio.
"Ele está lá."
O Solar Axe ainda vibrava.
Oitava onda fundida. A nona se formava.
Kaien cerrou os punhos.
"Quando todas se tornarem uma… o mundo vai quebrar."
E então, ele deu o primeiro passo em direção ao palácio.
...
O palácio de Dressrosa erguia-se como uma lembrança de glória corrompida. Suas torres, antes símbolo de realeza, agora pareciam garras de marionete, estendidas ao céu. Cada janela era um olho. Cada corredor, um nervo. E no centro de tudo, invisíveis aos olhos comuns, estavam os fios.
Kaien subia os degraus.
Não corria. Não hesitava. Cada passo era uma batida. Cada batida, uma onda. O Solar Axe em suas costas vibrava com a nona fusão. O Haki de Armamento não era mais apenas defesa ou ataque — era linguagem.
Ele sentia os fios.
Eles não eram apenas armadilhas. Eram sensores. Códigos. Ecos da vontade de Doflamingo espalhados por cada pedra, cada sombra, cada suspiro.
Kaien parou.
Um fio atravessava o ar diante dele. Invisível. Mas não intocável.
Ele ergueu a mão.
"Ressonância."
O Haki de Observação se expandiu em círculos concêntricos. Não buscava presenças. Buscava tensão. Vibração. Ritmo.
O fio respondeu.
Kaien sorriu.
"Você está me ouvindo."
Ele girou o Solar Axe. A lâmina brilhou com o Haki fundido. A nona onda se completava. Mas ele não a liberou. Ainda não.
Três figuras surgiram no corredor superior.
Marionetes.
Não bonecos. Homens. Mas seus olhos estavam vazios. Seus corpos, presos por fios finíssimos que se estendiam até o teto. Moviam-se com precisão mecânica. Cada passo era guiado. Cada gesto, programado.
Kaien observou.
"Você não controla soldados. Você escreve partituras humanas."
Os três avançaram.
Kaien não recuou.
Ele ativou o Soru. Desapareceu. Reapareceu entre eles. O Solar Axe girou em um arco largo.
"Pulso Interno."
A onda de Haki atravessou os corpos. Não os cortou. Os desfez. Os fios se romperam. Os homens caíram, inconscientes. Livres.
Kaien continuou a subir.
As paredes do palácio tremiam. Não por impacto. Mas por antecipação.
No alto, Doflamingo observava através de um den den mushi ocular. Os dedos giravam lentamente, conectados a centenas de fios.
"Ele está subindo. E está ouvindo."
Ele sorriu.
"Então vamos afinar o palco."
Kaien chegou ao último patamar antes do salão principal.
O teto acima dele era uma tapeçaria viva de fios. Eles se moviam como serpentes. Vibravam como cordas de um instrumento ancestral. E no centro, havia um nó.
Kaien parou.
"É aqui."
Ele girou o Solar Axe. O Haki de Armamento se condensou na lâmina. A nona onda fundida começou a se expandir. Mas não em círculos. Em espiral.
"Pulso Ascendente."
Ele golpeou o ar.
O Haki foi lançado como uma lança de pressão. A técnica tomou forma no meio do caminho — um dragão. Denso. Escuro. Feito de camadas de impacto.
O dragão subiu.
Atravessou os fios.
Rasgou o teto.
E abriu o caminho.
Kaien olhou para cima.
A luz do salão principal descia em feixes dourados. Mas não era luz do sol. Era luz de palco.
Ele deu o próximo passo.
E o mundo… segurou a respiração.
..
O céu de Dressrosa se curvava.
Não por tempestade, mas por peso. O peso de duas presenças que agora se enfrentavam sem véus, sem distância, sem hesitação.
Lyra desmontou.
O rifle de precisão, sua arma de escolha, foi deixado sobre o telhado. Ela não precisava mais de alcance. Precisava de impacto.
Com um movimento fluido, puxou duas pistolas curtas, de cano reforçado e empunhadura moldada para Haki. As balas já estavam carregadas. Mas Lyra não confiava apenas nelas.
Ela saltou do telhado.
Queen a viu.
"Você desceu, boneca?"
Lyra não respondeu.
Ela avançou.
Os primeiros tiros foram rápidos, precisos. Queen desviou com giros acrobáticos, ativando cápsulas de gás ao redor. Mas Lyra já estava dentro do alcance.
Ela girou no ar e desferiu um chute direto no peito de Queen. O impacto o lançou contra uma parede de concreto. A fumaça se espalhou, mas Lyra atravessou com os olhos fechados, guiada pelo Haki de Observação.
Queen tentou ativar um drone explosivo. Lyra disparou contra o mecanismo antes que se erguesse. Depois correu, deslizando pelo chão e disparando contra os joelhos do inimigo.
Queen cambaleou.
Lyra girou, disparou contra os ombros, depois saltou e desferiu um chute giratório na mandíbula.
"Você espalha veneno. Eu espalho precisão."
Queen caiu.
Mas ainda sorria.
"Você é boa. Mas eu sou caos."
Ele ativou um lançador oculto no braço. Lyra desviou com um salto curto, disparou contra o dispositivo, e o destruiu.
Ela pousou com firmeza.
"Caos não sobrevive ao foco."
...
No outro extremo da praça, Seraphine pousava.
Jack avançava.
O corpo havia mudado. A pele engrossava. Os músculos se expandiam. Presas surgiam. A Zou Zou no Mi, modelo mamute, revelava sua forma.
Jack rugiu.
Seraphine não recuou.
A Gaune Dourada se manifestava por completo. As escamas reluziam. As asas se expandiam. Os olhos dourados se fixavam no inimigo.
Ela não era apenas uma ave.
Era uma criatura mítica.
Uma ave que comia dragões.
Jack avançou com brutalidade. O chão tremia. As pedras se partiam. Seraphine voou em linha reta, atravessando o impacto com o corpo envolto em Haki de Armamento.
O choque foi absoluto.
Seraphine girou no ar, desferiu uma rajada de vento cortante que atingiu Jack no flanco. Ele rugiu, mas avançou novamente. Tentou agarrá-la. Ela mergulhou, pousou atrás dele e desferiu um golpe com as asas.
O impacto o lançou contra uma torre.
Jack se ergueu, agora em forma híbrida. A força era absurda. Mas Seraphine não hesitava.
Ela avançou.
Os dois colidiram no centro da praça. As ondas de choque se espalharam por Dressrosa. Civis se escondiam. Soldados recuavam. O céu tremia.
Seraphine desferiu um golpe com as garras. Jack tentou contra-atacar com a tromba. Mas ela girou, desviou e lançou uma rajada de vento direto no rosto dele.
Jack caiu.
Seraphine pousou.
"Você é força, mas eu não sou fraca."
...
Lyra caminhava entre os escombros. Queen jazia desacordado, cercado por cápsulas destruídas e drones quebrados.
Seraphine se aproximou.
Jack estava inconsciente, o corpo ainda em forma híbrida, respirando com dificuldade.
Lyra olhou para o céu.
"Kaien está subindo."
Seraphine assentiu.
"O maestro está esperando."
Dressrosa não era mais palco.
Era campo.
E o fio… começava a se romper.
