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Chapter 2 - CAPÍTULO 1.1 — O MUNDO QUE NÃO ME CONHECE

CAPÍTULO 1.1 — O MUNDO QUE NÃO ME CONHECE

O mundo não esperou por mim.

Os dias passaram sem cerimônia.

Luz pela manhã.

Escuridão à noite.

Choro. Silêncio. Choro novamente.

Eu aprendi rápido.

Não porque alguém me ensinou — mas porque errar, mesmo como bebê, doía.

Meu corpo era pequeno. Fraco. Instável.

Cada movimento exigia esforço real.

Este mundo pune o descuido…

Mesmo nos detalhes.

O orfanato era simples demais para ser chamado de lar.

Paredes gastas.

Berços alinhados.

Crianças demais para poucas mãos.

As cuidadoras não eram más.

Apenas cansadas.

Elas não viam indivíduos.

Viam bocas para alimentar.

Corpos para manter vivos.

Eu era apenas mais um.

E isso… era perfeito.

Anônimo.

Esquecível.

Seguro.

Observei tudo em silêncio.

As rotinas.

Os horários.

As mudanças sutis no humor das pessoas.

Mesmo sem falar, eu aprendia.

Mesmo sem andar, eu calculava.

O mundo funcionava sob regras diferentes da minha vida passada, mas ainda assim… regras existiam.

E onde há regras, há brechas.

Em raros momentos de calma, eu sentia novamente aquela energia no ar.

Mana.

Ela fluía pelas paredes, pelo chão, pelas pessoas. Fraca naquele lugar — mas constante.

Eu não tentei tocá-la de novo.

A dor da primeira vez ainda estava gravada na carne.

Paciência.

Eu morri por ignorar isso.

Em vez disso, apenas observei.

Senti o fluxo.

Reconheci padrões.

Decorei sensações.

Como um mapa invisível sendo desenhado dentro da mente.

O colar em meu pescoço permanecia frio.

Sempre frio.

Às vezes… pesado.

Não como um peso físico.

Mas como algo que me lembrava, constantemente:

Não agora.

À noite, quando o orfanato dormia, eu encarava o escuro.

Outros bebês choravam.

Alguns paravam.

Alguns nunca mais choravam depois de certo dia.

Ninguém comentava.

Ninguém perguntava.

O mundo seguia.

Então é assim…

Este mundo não se importa com quem cai.

Apenas com quem permanece.

Apertei os dedos pequenos contra o pano do berço.

Não havia raiva.

Nem tristeza.

Apenas aceitação.

Muito bem.

Se este mundo não me reconhece…

então eu vou crescer observando ele.

Fechei os olhos.

O Imperador do passado estava morto.

Mas algo novo…

estava começando a aprender.

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