Fiquei ali de arma em punho. Meia hora depois, um SUV preto parou. Observei enquanto Aracne descia do carro e caminhava em direção à cabine do motel.
Ela tinha uma arma na mão direita e uma mochila nas costas. Ela era boa, movendo-se rápido e com cuidado. Parou ao lado da porta e bateu, então mudou-se para o lado oposto.
Ela estava vestida para a ação: roupas esportivas pretas, resistentes, mas elásticas; um casaco longo, coldres na axila e na cintura. Não obtendo respostas, invadiu o quarto, arma em punhos, braços firmes, seus olhos vasculhando cada centímetro do lugar.
Eu a observava com meu olho fantasma, cada movimento seu sob meu olhar atento. Ela era boa eficiente e limpa, mas não teria sucesso dessa vez; afinal, a ferramenta que eu usava era sobrenatural!
Aracne olhou ao redor, então se virou, seus olhos brilhando irritados ao olhar para a janela. Ela pegou o telefone e discou o meu número; segundos depois, meu próprio telefone tocou.
"Vejo que você chegou." falei, sem modificador de voz dessa vez.
"Você não está aqui. Por acaso quer que eu coloque um preço pela sua cabeça?" perguntou ela, a voz irritada.
"Se quiser ter a sua atravessada por uma bala calibre 7,62, faça isso!" respondi, divertido.
"Você me trouxe seu amigo, que estava ouvindo nossa conversa ontem, depois a loirinha gostosa. Quem diria que a filha de Ferdinand Debois seria a porra do meu cliente!" falei com indiferença.
"A filha do maldito caguete francês que traiu a família Galdino! Você quer morrer, ou está querendo me levar pra morte, porra?!"
Falei irritado. Eu havia usado meus talentos e investigado a gostosa loira na noite anterior. No momento em que acordei, às cinco da manhã, comecei a hackear — e, quanto mais fundo eu investigava, mais irritado ficava.
Andressa Debois. Filha de Ferdinand Debois, antigo contador da família Galdino. Responsável não apenas por trair a família, mas também o maldito traidor que entregou todo o esquema dos Galdinos à Interpol.
O que sobrou da antiga e ilustre família italiana se espalhou pelo mundo — alguns pelos EUA, outros pelas Américas e Ásia. O problema: Marco Antônio Galdino, um influente empresário de Boston.
"Não é o que você está pensando!" Aracne estava assustada.
"Seja mais específica. No momento, estou pensando em estourar sua cabeça, depois a loira gostosa, depois seu amigo... embora eu tenha gostado dele, minha vida vem em primeiro lugar!" respondi, irritado.
"Andressa não está ligada ao pai! Ela dirige uma rede de boates, mas a financiadora dela é a mãe, Amanda Mendes! Ela era modelo em sua juventude, conheceu Ferdinand em um desfile de moda em Paris e acabou sendo mãe da filha do homem!"
Eu havia me levantado da cadeira e caminhado até a janela, meus olhos no estacionamento do motel.
"Eu sei. Mas isso não a isenta de quem é, nem do fato de que Galdino a está rastreando! Por falar nisso... tem um Impala preto parado em frente ao motel! Eles estão com você?" perguntei, meu olho fantasma nela, eu agora observando o carro que parou com dois caras em ternos sob medida.
"Eu não trouxe ninguém!" Aracne respondeu, e eu podia ver o medo em seus olhos.
"Eu vim até a porra do Canadá, trouxe a porra da mercadoria! Me arrisquei, você me paga e eu vou embora. Mas, desde que te encontrei ontem, tenho tido a sensação de que esse serviço é furada. Então ou você é honesta, ou eu te garanto que seu corpo vai ser encontrado em um quarto de motel junto com os dois idiotas no Impala."
"Crime passional. Três corpos amontoados numa cama. Tiros à queima-roupa. Corpos nus." falei devagar, meu tom frio, indiferente.
"Eu não fiz isso! O que preciso fazer pra provar?" falou ela; seu tom não era mais decidido, estava assustado.
Eu entendia. Eu sentiria o mesmo se estivesse na mira da porra da máfia italiana.
"Você me escuta, e nós resolvemos os idiotas lá fora. Depois, encontramos a porra da verdadeira cliente e negociamos pelo meu serviço. Se vou lidar com a máfia, vocês vão pagar por isso.
Saída do ar-condicionado. Tem um par de granadas ali e um fio; pegue e os coloque na porta. Creio que saiba fazer isso." falei, meu olho fantasma fixo em Aracne, que fez o que eu disse.
Ela armou os explosivos na porta do quarto com cuidado, seus olhos frios, embora tremesse um pouco.
"E agora, o que eu faço?" perguntou ela.
"Saia pela basculante do banheiro. Basta dar uma pancada forte; deixei fácil de remover mais cedo. Depois, corra em um arco ao redor do motel. Me espere no quarto da extremidade oposta, em frente a onde você está."
"Você tem dois minutos." os idiotas acabaram de sair do carro — falei e comecei a me preparar.
Um estojo de guitarra, um capacete extra. Desmontei o M-110 e o guardei.
Observei os dois italianos deixarem o Mercedes, pistolas Beretta em mãos, seus ternos sob medida delineando seus corpos. Os observei pela janela, meu olho fantasma seguindo Aracne, que se movia com agilidade.
"Você tem 45 segundos. É melhor mexer essa bunda gostosa, ou os italianos explodem e eu atiro em você!"
Comecei a me mover para o banheiro. Os italianos estavam a nove metros da porta do quarto. Passei o case de guitarra pela janela, então passei meu próprio corpo.
"Olá! Se olhar para a direita, 120 graus, verá fogos de artifício em 30 segundos! " falei, divertido.
"Maldito psicopata!" Murmurou ela e me encarou.
Vinte e sete segundos depois, uma explosão soou. Uma nuvem de fogo e fumaça subiu aos céus, uma onda de choque se espalhou.
"Me siga. Espero que a porra do seu carro esteja limpo!" falei, correndo em direção à minha moto. Eu havia sido amador vindo nela, mas Aracne não precisava saber disso.
"Corre, agora!" falei em tom sério. Ela me encarou, seus olhos em meu rosto, enquanto corria logo atrás de mim.
Minutos depois, montamos na moto. Acelerei em direção ao lado oposto da cidade. Estacionei e entramos em meu quarto de motel barato. Aracne olhou ao redor, seus olhos mostrando desdém pelo lugar.
"Simplicidade é a chave para passar sem ser notado. Muito melhor que um vestido de quinze mil dólares em um clube de idiotas."
"Você entende de moda?" Aracne me questionou, surpresa por eu ter acertado o custo do vestido.
"Eu entendo de alvos chamativos. Você gritava algo problemático, mas lucrativo." respondi com desdém.
"Ligue para seus amigos. Quero resolver essa merda hoje, se possível." falei em tom frio, sentando-me na cama enquanto Aracne ficava parada, me encarando.
"Você liga pra eles, ou eu mato você, arranco o telefone do seu corpo e ligo pra eles. Você escolhe." acrescentei.
Ela não se moveu; seu corpo tremeu, seus olhos se estreitaram.
"Que porra de psicopata você é? Poderia parar de falar em matar?" perguntou, irritada.
"Quando você parar de perder meu tempo, eu paro de falar em te matar." respondi, com bom humor.
"Psicopata de merda!" xingou Aracne, pegando o celular e discando um número.
"Me encontre no clube. Leve Andressa." falou sem emoção, embora seus olhos estivessem estreitos.
Job, ao que parecia, não questionou, já que ela desligou após falar.
"Espero que tenha sido esperta." falei, me levantando.
Caminhamos até minha moto. Eu havia encerrado minha estadia mais cedo, embora ainda tivesse tempo — bastaria deixar a chave dentro do quarto ao sair. Montamos na moto e voltamos ao clube da noite passada.
O lugar estava vazio, exceto por Job, que trajava calças de couro, um espartilho e botas longas. Andressa também estava ali, em um vestido de verão, um estilo único, feito sob medida para seu corpo perfeito.
"Olá, gato, é bom finalmente te conhecer!" falou Andressa, dando um passo à frente.
"Sra. Mendes, por mais animado que eu esteja em rever você, creio que não seja hora ou momento para isso." respondi sem emoção. Aracne e Job nos encaravam sem palavras.
"Claro, vamos sair. Eu vou te apresentar às pessoas certas na cidade!" Andressa falou sem notar o clima tenso.
"Então, o que houve? Onde está minha mercadoria?" Andressa perguntou, e notei Aracne dando um passo à frente... mas era tarde demais.
"Você e Mey estavam negociando, certo? Cadê minha mercadoria?" perguntou ela, como uma criança petulante em busca de brinquedos.
Ignorei a garota rica e encarei o par de orientais.
"Isso parece um problema." falei lenta e deliberadamente. "Vocês três me colocaram na mira da porra da máfia italiana. Agora, eu preciso fazer um trabalho inesperado de limpeza. Quanto irão me pagar como compensação por isso?"
Andressa estava prestes a falar, mas Aracne deu um passo à frente, seus olhos sérios.
"A cabeça de Galdino vale cerca de quinhentos mil. Pagamos um milhão por seu problema, desde que ele seja eliminado."
Olhei para ela e para os outros, meus olhos frios gravando a imagem de todos eles.
"Onde ele está?"
Job falou dessa vez, seu tom sério:
"Atualmente ele está em Nova York. Os homens dessa noite pertencem a seu filho, Giorgio Galdino."
"Ele tem um apartamento no centro, oito membros na equipe de segurança." Job explicou.
"Como entramos?" perguntei. Job caminhou até uma mesa e pegou um laptop. Fui até ele e notei que havia hackeado o sistema de segurança de um prédio.
"O que importa se temos acesso total ao lugar? Giorgio é apenas o filho! O problema real é seu pai. O que adianta saber onde aquele pervertido desgraçado está?" Andressa falou, sua voz irritada.
Olhei para ela. Sua atitude me lembrava uma criança petulante fazendo birra.
"Adianta, se você quiser um objeto de troca de alto valor... ou uma boa isca." falei indiferente, meus olhos estreitos.
"Preciso de um carro, preferencialmente uma SUV." falei, e Aracne se moveu em direção ao bar.
Olhei para Job; seus olhos estavam tão frios quanto os meus.
"Job, me mantenha atualizado sobre o prédio!" meus olhos se voltaram para a garota. "Você, contate sua mãe... ou seu pai, tanto faz. Eu quero um milhão e meio para resolver seu problema. O preço não é negociável!"
Aracne voltou e me jogou a chave de um carro. Peguei o objeto e saí do clube.
Lá fora, apertei o botão do alarme — os faróis de um Land Rover acenderam. Entrei no carro e respirei fundo, acelerando para o trânsito de Toronto. As coisas haviam se complicado.
Peguei meu telefone e disquei o número de Fiona.
"Alô!" atendeu ela no primeiro toque, sua voz preocupada.
"Oi, Fi. Só liguei pra dizer que estou bem. Aconteceram algumas coisas do meu lado, talvez eu demore mais um dia ou dois pra voltar." falei devagar, meu tom calmo e relaxado.
Fiona não respondeu. Eu podia ouvir vozes ao fundo — o caos comum de um domingo na casa dos Gallagher.
"Tem certeza de que está bem? Se precisar de algo, nós estamos aqui." falou ela, sua voz calma, gentil.
"Não se preocupe, Fi. Eu estarei de volta em breve com algumas lembrancinhas pra todos. Agora tenho que ir, se cuida!" desliguei o telefone antes que ela pudesse responder e o coloquei no inventário.
Peguei o telefone descartável, conectei aos fones de ouvido e liguei para Aracne. Eu estava a dois minutos do endereço de Giorgio.
"Shadow?" Aracne atendeu.
"Passe para o Job." respondi, meu tom calmo, mas frio.
Ouvi as vozes abafadas e um leve farfalhar.
"Diga, vadia!" veio a voz frívola de Job.
"Estou a dois minutos do alvo. Garanta que todas as câmeras de segurança em um raio de três quadras estejam inoperantes." comandei.
"Feito. Na verdade, cuidei de cinco, pra garantir."
"Ótimo. Como está a situação com o alvo?" questionei.
"Ele chegou ao apartamento alguns minutos atrás. Ele e dois brutamontes estão no apartamento. Os demais não estão por perto no momento. Estacione no beco ao lado do prédio; irei destrancar a porta de acesso lateral."
Quando você entrar, pegue o elevador de serviço. Ele te levará até a cobertura sem ser perturbado." Job explicou o plano.
Mantive o silêncio.
"Tudo bem. Mantenha o olhar atento e me avise se algo mudar. Como está a riquinha?" perguntei.
"Ao telefone com a mãe. Ela está resmungando algo sobre querer montar em você e torcer seu pescoço enquanto fode seus miolos!" Job riu.
"Posso pensar sobre isso, mas não creio que ela conseguiria cumprir essas palavras." respondi divertido, parando no beco indicado.
No momento em que saí do carro, a porta do prédio se abriu com um clique. Caminhei indiferente até o elevador de carga e apertei o botão para a cobertura. O elevador tremeu e começou a se mover; em poucos minutos, as portas se abriram.
Ajustei minhas roupas, peguei minha pistola — já com silenciador equipado — e caminhei em direção à porta do apartamento. Enviei meu olho fantasma à frente.
O corredor era curto: apenas três metros entre as portas dos elevadores e o apartamento de Giorgio. Seu apartamento duplex ocupava toda a cobertura.
Giorgio e seus dois guarda-costas estavam à mesa de jantar, uma garrafa de uísque entre eles, enquanto jogavam cartas. Não havia necessidade de sutileza. Aproximei-me da porta e a chutei. Ela se abriu com um estrondo.
Entrei no apartamento. Dois tiros precisos — e as cabeças dos seguranças explodiram. Um terceiro tiro atingiu o ombro de Giorgio, que tentou se levantar, mas caiu.
"Comporte-se e você sai dessa inteiro. Tente fugir ou reagir e vai desejar estar morto." falei devagar, minha arma apontada para ele enquanto avançava.
"Quem é você, porra? Você tem ideia de quem eu sou?" falou ele, furioso, seus olhos na Beretta sobre a mesa.
"Foda-se quem você é. Agora cale a boca." respondi. Meu olho fantasma percorria o apartamento.
"Foda-se, idiota! Quando meu pai souber o que você fez, você vai estar morto, cara! Você e a porra da sua família toda vão morrer!!"
Olhei para o cara; minha arma apontou para o outro ombro dele, e atirei.
Um estalo abafado soou, seguido por seu grito agudo e dolorido.
'Eu disse: cala a boca." falei lenta e calmamente, meus olhos viajando pela sala.
Giorgio me olhou com ódio, sua fúria contida, mas presente. Não havia mais ninguém ali, nada de valor além do dinheiro sobre a mesa.
Fui até ele. Sangue manchava sua camisa. Segurei-o pela gola e o puxei para cima.
"Se levanta!" Comandei, quando ele tentou resistir. Seus olhos encontraram os meus, e ele cedeu.
Puxei seus braços para trás e, sem que percebesse, peguei uma abraçadeira de nylon do meu inventário e prendi seus pulsos, fazendo-o grunhir.
"Ande. Tente algo, e eu mato você." falei, empurrando-o. Giorgio virou a cabeça, olhando meu rosto.
Então, sem falar mais, começou a andar.
"Estou saindo. Qual é a situação da rota de fuga?" falei alto.
"Caminho livre. Estamos preparando uma recepção calorosa para nosso amigo." a voz de Job veio em resposta.
'Ótimo. E como está o outro lado?" perguntei, caminhando pelo corredor e entrando no elevador de carga.
'Eles concordam em pagar, mas... você pode não gostar de algo." Job falou, mais contido, um pouco receoso.
"Diga. Se eu não gostar, o máximo que farei é matar algumas pessoas. Mas você tem sido legal... prometo que, se ficar fora disso, ficaremos bem." respondi com indiferença, tom frio, meus olhos em Giorgio, que me olhava estudando algo.
"Amanda concordou com o pagamento, mas ela está vindo pra cá. Quer discutir o plano com você." Job falou.
As coisas não estavam saindo como planejado. Eu deveria ter desistido disso no momento em que vi a loira problemática naquela boate.
"Tudo bem. Eu já avisei o que acontecerá se as coisas derem errado." respondi e desliguei o telefone.
As portas do elevador se abriram, e empurrei Giorgio para fora.
O joguei no porta-malas e reforcei a amarra em suas mãos. Também amarrei suas pernas com abraçadeiras de nylon, para garantir. Entrei no carro e me recostei. Eu estava arriscando demais — jogando um jogo que não me pertencia.
Eu precisava recuperar o controle. Meus olhos brilharam; um plano surgia em minha mente. Liguei o carro e acelerei para fora da cidade. Dirigi por quase uma hora antes de parar em um hotel barato, sem câmeras de segurança ou olhares indiscretos.
Escolhi a cabine mais distante da recepção. O lugar estava vazio e ficava a cerca de quinhentos metros da rodovia principal.
Tirei Giorgio do carro e caminhei para dentro do prédio com ele nos ombros. Amarrei-o a uma cadeira.
Com tudo feito, olhei para fora. Peguei o telefone e disquei o número de Job.
"Porra, onde você está? Estamos todos aqui esperando!" falou ele, a voz irritada.
"Estou enviando um endereço. Apenas vocês quatro são bem-vindos à festa. Alguém mais aparece e eu não me responsabilizo pelos resultados." falei devagar, minha voz pouco mais que um sussurro.
"Tudo bem, estamos indo!" falou Job, ainda irritado.
Virei meu olhar para Giorgio, caminhei até o banheiro e me aliviei. Quando voltei, tinha um rolo de silver tape em mãos. Cobri sua boca e reforcei as amarras em seus braços e pernas.
Saí do apartamento e dei a volta no motel. Encontrei uma boa posição de vigia a cerca de cinquenta metros. Havia uma caixa-d'água ali, me dando visão direta ao quarto e ao estacionamento.
Escalei a caixa-d'água; meu olho fantasma estava posicionado no apartamento do motel, enquanto eu cuidaria do exterior. As paredes finas do lugar mal apresentariam resistência à bala calibre 7,62.
Pela segunda vez naquele dia, eu estava esperando para emboscar alguém — e esperava que, dessa vez, não precisasse matar novamente.
