Voltei para o quarto e me sentei em frente ao computador, coloquei as cervejas em um aparador e comecei a trabalhar. O ar frio e relaxante tornava o ambiente agradável. Olhando para a cama, eu podia ver o corpo de Mandy delineado pelos lençóis enquanto ela dormia.
Era lindo de se ver, mas eu poderia apreciar a cena mais tarde. Escolhi uma playlist e apertei play; Evanescence ecoou pelo quarto em um tom baixo. Comecei a trabalhar. Com rapidez, acessei a Dark Web e entrei em um fórum que eu havia criado. Eu havia listado cerca de 20 kg de heroína pura que roubei de Hernan.
Meus olhos percorreram o fórum; havia diversas propostas pelo produto, embora todas exigissem encontros pessoais para testarem a mercadoria. Meus olhos estavam arregalados; havia propostas variando de $12 a quase $17 milhões.
Esse seria o capital para meus planos, a base de meu império. Comecei a trabalhar: evitei as ofertas mais baixas e a mais alta entre elas. Meus olhos fixaram‑se em uma oferta — codinome Aracne, $15 milhões — um pouco abaixo do valor de mercado da mercadoria, mas um preço realista.
Mais importante: Aracne tinha alguma reputação, uma intermediária com um nome conhecido e envolvida em muitos círculos. Mesmo que o preço não fosse o maior, conhecer tal pessoa já era considerado um lucro.
Peguei um telefone descartável do meu inventário e enviei o número para Aracne através do fórum. Acoplei o modificador de voz ao telefone, liguei tudo no computador; meu programa de rastreamento pronto para ser iniciado.
Menos de cinco minutos depois, meu telefone tocou.
"Alô, Aracne, suponho eu!" atendi, minha voz distorcida pelo equipamento.
Ao mesmo tempo, meu algoritmo de rastreamento iniciou seu trabalho.
"Olá, Shadow, vejo que se interessou por minha proposta!" veio a voz do outro lado, madura, rouca, com um toque de sensualidade.
"É uma proposta decente, embora eu espere que você a revise após avaliar meu produto!" respondi com calma, meus olhos identificando a localização geral da pessoa, embora eu não pudesse saber seu nome.
Assim como eu, ela utilizava um aparelho descartável.
"Desde que a mercadoria seja real e de qualidade, tudo é negociável! Porém, quem é você, Shadow? Nunca vi seu nome em nosso círculo e o momento de sua oferta é suspeito!" veio a voz da mulher pelo telefone.
"Digamos que eu esteja envolvido no serviço de limpeza. O produto que estou oferecendo é apenas um bônus de um trabalho bem feito!" falei com indiferença.
"Limpeza, entendo o que você quer dizer. Tenho o hábito de contratar profissionais de sua área de atuação, mas não lembro de seu nome nela também!" respondeu ela.
Olhei para o monitor, meu foco no rastreador que indicava Toronto como a fonte da ligação.
"Pense em mim como um iniciante capaz e extremamente sortudo. Agora, que tal falarmos sobre negócios?" respondi diretamente.
"Tudo bem, faremos como você deseja. Estou interessada; a proposta se mantém e eu retiraria o produto em um local de sua escolha, desde que esteja na América do Norte, ou $16 — nesse caso você cuidaria da logística."respondeu ela.
"Diga onde e quando. Logística não é um problema." respondi, com naturalidade.
"Toronto." falou a mulher.
Não seria problema. Eu havia conseguido documentos falsos na semana anterior, e seria uma viagem fácil em minha moto.
"Sem problemas, entrarei em contato quando estiver lá!" desliguei o telefone.
Me recostei na poltrona e fechei os olhos. Eu estava arriscando muito, mas, honestamente, era a forma mais fácil de arrecadar fundos. Ainda assim, algumas precauções precisariam ser tomadas. Peguei minha mochila resistente e à prova d'água; coloquei roupas para dois dias, algumas perucas e armações de óculos sem grau; peguei algum dinheiro e coloquei na carteira, e um laptop robusto que havia comprado para essas situações.
Eram cinco da tarde. Eu poderia estar em Toronto em cerca de sete horas, se desconsiderasse os limites de velocidade em alguns trechos, mas, mesmo que não fizesse isso, seriam apenas oito horas de viagem. Vesti calças jeans, uma camiseta branca, uma jaqueta de couro por cima e um par de botas.
Olhei para Mandy, que dormia, e caminhei até meu armário de bebidas. Abri sua porta e calcei um par de luvas. Guardei onze pacotes de heroína pura e cinco porções já separadas em tubos de ensaio, uma placa clonada e documentos para a moto, antes de fechar tudo novamente. Meu olho fantasma estava focado em Mandy, de frente para seu rosto; se ela abrisse os olhos eu saberia, mas ela não o fez — sua respiração era uniforme e seu rosto calmo.
Caminhei até a cama e me sentei, acariciei o rosto de Mandy e ela acordou, os olhos me fitando.
"Bom dia!" murmurou ela ainda grogue.
"Ainda é tarde, mas não se preocupe." sorri divertido; então meu olhar se tornou sério. "Preciso ir. Tenho alguns assuntos que preciso resolver; estarei de volta amanhã." fiz uma pausa; seu rosto exibia preocupação.
"Não se preocupe, são apenas negócios. Nada de mortes. Enquanto isso, não saia de casa; não sabemos se alguém mais está te procurando!" acariciei seus cabelos, e ela assentiu. Beijei seus lábios e dei um sorriso antes de sair do quarto.
Como sempre, Fiona estava na sala; Vic estava no sofá com uma chapinha nas mãos, Fiona entre suas pernas, as duas fazendo o cabelo de minha irmã e vendo TV. Era impressionante que isso não acabasse em merda.
No momento em que saí do quarto, elas me olharam, e Vic colocou a chapinha de lado.
"Vai para algum lugar, Lip?" minha irmã perguntou, um brilho de preocupação nos olhos.
"Uma pequena viagem, negócios para resolver!" respondi com calma.
"Para onde? Quanto tempo? Quer que eu vá com você?" Fiona se levantou e caminhou até mim.
"Apenas cuide dos pequenos. Eu cuido de tudo do meu lado; não será um problema. Estarei de volta amanhã à tarde, perfeitamente bem."
Fiona parecia querer discutir, mas respirou fundo e se calou.
"Apenas tome cuidado; você tem se arriscado demais!" falou ela, finalmente.
Dei um passo à frente e a envolvi em um abraço apertado.
"Relaxe, eu posso me cuidar. Apenas fique de olho nas coisas e, se precisar, você sabe onde me achar...'falei em seu ouvido. Fi era a única que conhecia meu depósito secreto.
Beijei sua testa e a soltei, abracei Vic e saí para a garagem. O motor da moto roncou alto enquanto eu acelerava para fora; era hora de viajar. Sete horas e meia depois, eu estava em um hotel barato nos arredores de Toronto. A viagem havia sido tranquila, e agora eu estava na cama com uma caixa de pizza no colo, assistindo a um filme ruim na TV.
Peguei o telefone descartável e disquei o número de Aracne. O telefone tocou duas vezes antes que a mesma voz feminina e sensual soasse.
"Não pensei que você me ligaria tão cedo." falou ela. Música eletrônica soando ao fundo, misturada ao som de vozes e risos.
"Estou em Toronto. Tenho uma amostra do produto." respondi sem hesitar.
"Estou enviando o endereço. Estou de vestido vermelho; você me reconhecerá." respondeu Aracne, direta.
"Estarei aí." respondi e desliguei o telefone. Memorizei o endereço antes de colocá‑lo no inventário.
Levantei‑me, abri a mochila e escolhi um disfarce: óculos esportivos de armação quadrada e uma peruca loira encaracolada na altura do pescoço. O cabelo caía sobre meu rosto, cobrindo muitos traços e ajudando a disfarçar sem chamar atenção.
Caminhei até a moto e liguei; acelerei por Toronto. Em minutos, estava em frente a uma boate badalada, na zona nobre da cidade. Ignorei a fila e caminhei direto aos seguranças; meus passos eram calmos, a postura predatória — qualquer um com experiência sabia que não seria boa ideia me barrar.
"Boa noite, amigo, está agitado hoje!" estendi a mão para o guarda e sorri.
"Você sabe como é, apenas uma noite normal!" respondeu ele sorrindo. Ninguém notou a nota de $100 mudando de mãos enquanto ele me deixava passar.
Nada de revista, nada de olhar em documentos; o poder do dinheiro era universal. Entrei na boate e a música alta me atingiu. Olhei ao redor; as luzes piscavam, desorientando por um segundo antes de eu caminhar até o bar.
Meu olho fantasma viajou pela boate: sem câmeras, sem pessoas suspeitas. Apenas jovens querendo diversão, alguns depravados e os criminosos normais. Uma pessoa, porém, parecia deslocada no segundo andar; ela usava um vestido preto curto, os seios grandes ameaçando escapar do tecido.
Seus olhos estavam focados em um par de pessoas, ambos orientais e bem vestidos — não por curiosidade, mas como se ela quisesse se juntar a eles. Segui seu olhar; meus passos não diminuíram enquanto meu olho fantasma se fixava no alvo da loira.
Me encostei no balcão, pedi um uísque e olhei a área VIP. Ela era bonita: traços orientais, longos cabelos negros, corpo voluptuoso em um vestido vermelho decotado. Em frente a ela, um homem com traços orientais também, longos cabelos negros; ambos rodeados por jovens atraentes.
Eu conhecia aquele homem de outra cena: um hacker capaz, um aliado leal quando se ganha sua confiança. Talvez o negócio fosse tranquilo. Pensei e me preparei para agir.
Entreguei o dinheiro ao barman e caminhei até o par. Senti que me destacava naquele lugar; assim que me aproximei, eles me notaram, avaliando‑me como um predador experiente. Um leve sorriso escapou quando me sentei de frente para Aracne, que me olhava curiosa.
A mulher sorriu, olhou para os jovens ao redor, e o rosto tornou‑se sério.
" Saiam!"falou ela, rouca e sensual.
"Hum, devo ir também ou apenas eles?" provocou o homem com sarcasmo.
"Apenas cale a boca, Job." ela lançou um olhar mortal ao homem e voltou a me encarar.
"Você me surpreendeu; esperava um tipo sombrio e obscuro, não um adolescente gostoso!" falou ela.
Dei de ombros e enviei o olho fantasma ao nosso redor, buscando por sinais de problemas. Estava tudo normal, mas mantive o dispositivo flutuando sobre mim, vendo tudo em raio de 360 graus.
"Vou colocar a mão no bolso direito e pegar uma amostra do produto. Não tente nada ou derramaremos sangue desnecessariamente!" falei devagar; Job não respondeu, apenas bebeu.
Aracne pegou a bebida com a mão esquerda e deixou a direita sobre a mesa. Enfiei a mão no bolso interno da jaqueta e retirei lentamente um tubo de ensaio com cerca de metade do conteúdo. Coloquei o frasco sobre a mesa e o rolei em direção a Aracne.
Ela olhou o produto e fez um sinal. Fiquei em alerta: os olhos buscando rotas de fuga enquanto o olho fantasma se fixava no barman, que se aproximava com algo.
"Relaxe, é apenas material de teste!" Aracne notou a tensão; como intermediária experiente, acalmou a cena.
Não me movi, mas permaneci pronto para abrir caminho se necessário. Não havia câmeras e eu estava disfarçado. Meus dedos fecharam‑se ao redor do copo de uísque — meu DNA ali — que eu teria de levar comigo.
Job me avaliou com olhar experiente.
"Você não deixa pontas soltas, não é, garoto?" perguntou, atraindo também a atenção de Aracne.
"Não gosto de riscos..." respondi frio, quando o barman colocou um frasco de reagente e um tubo de ensaio sobre a mesa.
Ele os deixou e saiu, sem olhar em minha direção.
"Você tem algum histórico, algum trabalho notável?" Job insistiu.
"Apenas trabalho. Não diferencio nem dou notas." respondi direto.
Job, sorrindo, sugeriu:
"Que tal um serviço em conjunto? Aracne está dentro, mas precisamos de um cara musculoso; você parece o tipo."
Observei Aracne enquanto ela colocava metade da heroína em um novo tubo e despejava reagente em ambos.
"Cem por cento pura, coisa boa!" falou ela, satisfeita.
"Quando podemos ter o resto? Qual forma de pagamento?" ela foi direto ao ponto, com um sorriso bonito.
"Seis milhões depositados na conta que informarei; o resto em bitcoins!" respondi. Eles me olharam estranhamente.
"O depósito não é problema, mas tem certeza sobre os bitcoins?" questionou Aracne.
Assenti.
"Te envio o local amanhã. Não preciso dizer o que acontece se tentarem me ferrar." falei, encarando Aracne.
Virei‑me para Job:"Falamos do trabalho depois, se sua amiga não tentar me ferrar." Levantei‑me e me afastei, mantendo o olho fantasma fixo nos dois enquanto me misturava à multidão.
Na mesa, Job e Aracne permaneceram em silêncio; se tentassem algo, sabiam que o resultado poderia ser sangrento.
"Onde você encontrou esse cara?" Job perguntou.
"Uma amiga viu seu anúncio e me pediu para intermediar!" respondeu Aracne.
"Se soubesse que seria um gato daqueles, eu mesmo teria vindo!" Disse uma voz nova. Uma loira bonita surgiu, rosto bonito e corpo impactante.
Ela tinha cerca de um metro e meio, cintura fina, pele bronzeada e um vestido justo que quase não a cobria; o destaque era dividido entre seios volumosos e um rosto de boneca com olhos azuis e lábios vermelhos.
"Andressa!"Aracne a repreendeu. "Você não deveria estar aqui!"
"Relaxe; de que adianta ter uma boate se não posso estar nela? Então, o que podem dizer sobre o cara que saiu?" Andressa ignorou Aracne.
"Perigoso, extremamente desconfiado e pronto para matar para evitar ser reconhecido. Ele saiu daqui levando o copo de uísque, se não perceberam!" Job explicou, e as mulheres notaram o que aconteceu.
"Por que ele fez isso?" Andressa quis saber.
"DNA. Embora paranoico, é inteligente." Aracne explicou, o respeito pelo jovem Shadow aumentando.
Do lado de fora, eu observava os três sentados à mesa. Mesmo tendo saído, meu olho fantasma tinha alcance de 100 metros — perfeito para espionagem. Pena não poder ouvir o que era dito.
De volta ao quarto de motel, tirei as roupas e me joguei na cama. Havia uma pistola sob o travesseiro, já com silenciador e carregada. Na manhã seguinte acordei cedo; depois de tomar café, comprei uma bolsa de lona e guardei as drogas nela.
Pilotei até um motel fora da cidade e escolhi duas cabanas, afastadas e em lados opostos do complexo, com visão desobstruída uma da outra. Coloquei minha moto em local de fácil acesso e fora de vista; mandei o endereço do lugar e o número do quarto para Aracne.
Posicionei‑me no quarto oposto. Sentei‑me numa cadeira com o M‑110 posicionado através de um furo na parede que havia criado. Eu não precisava de linha de visão; meu olho fantasma me permitia ver tudo sem me expor.
