O Novo Mundo não os recebeu com bandeiras. Recebeu com fúria.
Assim que a bolha rompeu a superfície, o navio da Xeeksot foi engolido por um céu em guerra. Nuvens densas se acumulavam como muralhas vivas. Relâmpagos riscavam o horizonte em ziguezagues caóticos. Ondas se erguiam como muralhas líquidas, quebrando contra o casco com força brutal.
Kaien mantinha o leme firme, o Solar Axe preso às costas. Seus olhos não piscavam, mesmo com a chuva cortando como agulhas. Ele não gritava ordens. Apenas confiava.
Lyra mantinha os olhos no radar, tentando prever a próxima onda. Seraphine sobrevoava o navio em círculos curtos, usando o Geppo para estabilizar o voo em meio aos ventos. Kid e Killer reforçavam as amarras com correntes magnéticas. Law, com calma cirúrgica, amarrou Bepo com uma corda comum, prendendo-o ao mastro central.
"Não precisa de tecnologia pra isso," murmurou, ajustando o nó com precisão.
Ryujin, mesmo acostumado às pressões do fundo do oceano, sentia o peso do céu.
Durante horas, o navio foi jogado de um lado para o outro. Mas não cedeu. A madeira rangia, mas não se partia. A tripulação resistia, mas não recuava.
E então, o mar acalmou. Não por misericórdia. Mas por transição.
O céu ainda era cinza, mas as ondas haviam recuado. A frente de tempestade havia passado. O silêncio que veio depois era estranho demais para ser confiável.
Foi Lyra quem avistou primeiro.
"Navio à deriva. Trinta graus a estibordo."
Todos se viraram. Era uma embarcação da Marinha. Ou o que restava dela.
O casco estava rachado. As velas rasgadas. A bandeira caída. Nenhum sinal de vida.
Kaien estreitou os olhos. — "Emboscada?"
Kid já preparava os braços metálicos. Killer afiava as lâminas. Seraphine sobrevoava o local, buscando sinais de calor. Law, com o olhar clínico, analisava a disposição dos destroços.
"Não há marcas de explosão. Nem sinais de luta recente. Mas… algo está errado."
Antes que pudessem se aproximar, outro navio surgiu no horizonte. Mais um da Marinha. Mas, ao avistar a Xeeksot, virou imediatamente.
Fugiu.
Depois, outro. E outro. Todos recuando. Sem disparar. Sem ameaçar.
Era como se estivessem fugindo de algo maior.
"Eles não estão nos emboscando," disse Law. "Estão nos evitando."
Kaien manteve o olhar fixo no navio à deriva. Algo ali chamava sua atenção.
Foi então que o den den mushi de Lyra começou a tocar. Um som agudo, urgente. Ela atendeu.
"Alguém está ouvindo? Por favor… alguém… estou preso… não sei quanto tempo mais posso aguentar…"
A voz era fraca. Desconhecida. Sem identificação.
A transmissão cortou.
Silêncio.
Law cruzou os braços.
"Pode ser uma armadilha. Não foi a Marinha. E ninguém se identifica assim por acaso."
Kaien não respondeu de imediato. Apenas olhou para o céu. Depois para o mar. E então, para o horizonte.
"Mesmo que seja uma armadilha… vamos."
Kid bufou. — "Você sabe que é uma isca."
"Se for, vamos quebrar a vara," respondeu Kaien.
O navio mudou de curso. Seguiu as coordenadas.
Horas depois, a névoa começou a se formar. Densa. Quente de um lado. Gélida do outro.
O mar borbulhava em certos pontos. Em outros, congelava.
Seraphine voava acima, mas a visibilidade era quase nula. O ar parecia dividido em duas naturezas. Fogo e gelo.
Foi Bepo quem reconheceu primeiro.
"Isso é… Punk Hazard."
Law confirmou. — "A ilha onde Akainu e Aokiji lutaram pelo posto de Marechal. O lugar foi selado. Ninguém deveria estar aqui."
Mas estavam.
E o pedido de socorro vinha dali.
A Xeeksot se aproximou da costa com cautela. O navio encalhado estava meio submerso, coberto por cristais de gelo e vapores tóxicos.
Kaien desembarcou primeiro. O solo rangia sob seus pés — metade derretido, metade congelado.
"Vamos descobrir o que está acontecendo."
E assim, a Xeeksot pisou em Punk Hazard. Sem saber que aquele lugar, mesmo desolado, ainda guardava vida. E segredos.
...
A névoa em Punk Hazard não era natural. Ela carregava cheiro de gás, ferrugem e gelo queimado. A Xeeksot avançava com cautela, os pés afundando em solo instável — metade derretido, metade congelado.
Kaien liderava em silêncio. Lyra escaneava os arredores com o den den mushi portátil. Law mantinha um mapa improvisado, marcando cada estrutura visível. Seraphine sobrevoava os setores mais instáveis. Kid e Killer exploravam os escombros. Bepo e Ryujin protegiam a retaguarda.
Logo encontraram o que restava de um laboratório. Portas de aço retorcidas. Vidros estilhaçados. Tanques quebrados. Mas havia mais do que ruínas.
Law se aproximou de uma cápsula semi-intacta. Dentro, tubos ainda pingavam um líquido âmbar. Ele analisou os componentes com precisão cirúrgica.
"Isso é tecnologia de César Clown," disse, com frieza. "Sistema de infusão de gás experimental. Reconheço a assinatura química. Ele usava isso para testes de gigantificação."
Kaien se aproximou. "Ele esteve aqui?"
Law assentiu. "Sem dúvida. E não faz tanto tempo quanto pensávamos."
Lyra encontrou uma sala de controle com monitores quebrados. Mas um deles ainda piscava em vermelho. Ela reconectou os fios e conseguiu recuperar parte de uma gravação.
A imagem tremia, mas era clara o suficiente.
Doflamingo.
Sentado em uma cadeira giratória, sorrindo para alguém fora do quadro.
"César, se isso funcionar, o mundo vai nos pagar com medo."
A gravação cortou.
Kid cerrou os punhos. — "Então os dois estavam juntos aqui."
Seraphine pousou ao lado, segurando um crachá metálico parcialmente queimado. Ela o entregou a Kaien.
"Identificação de segurança. Nome: C. Clown. Acesso: Nível 7."
Kaien girou o crachá entre os dedos. — "Isso é mais do que um rastro. É uma assinatura."
Killer encontrou uma caixa com o símbolo da Família Donquixote. Dentro, seringas, frascos e documentos rasgados. Um deles, parcialmente legível, trazia o nome de "Smile – Lote 17".
Law pegou o papel e leu em voz alta.
"Distribuição suspensa. Ordem direta de Joker. Transferir amostras para Dressrosa."
"Joker," repetiu Kaien. "O codinome de Doflamingo no submundo."
Ryujin examinava uma parede marcada por cortes profundos.
"Esses golpes não são de explosão. São de lâminas. Alguém lutou aqui."
Seraphine ativou o scanner térmico. "Sem calor humano. Mas há pegadas recentes. Três pares. Um deles… muito pesado."
Bepo farejou o ar.
"Alguém fugiu daqui. E não faz muito tempo."
Kaien reuniu todos.
"A ilha está vazia. Mas não está morta. Vamos registrar tudo e sair antes que o silêncio se quebre."
Law finalizou o mapeamento. Lyra salvou os dados. Kid e Killer reforçaram o navio. Seraphine sobrevoou a área uma última vez. Ryujin permaneceu em alerta.
Ao embarcarem, Kaien olhou para a ilha uma última vez.
"Doflamingo e César usaram esse lugar. E deixaram coisas para trás. Eles vão querer de volta."
Mas antes que o navio se afastasse completamente, Lyra captou um sinal fraco. Uma transmissão codificada. Não era pedido de socorro. Era uma chamada de retorno.
Law decodificou rapidamente.
"Subordinados da Família Donquixote. Estão voltando para recuperar o que deixaram."
Kaien não hesitou.
"Se vierem, vão encontrar a gente."
Kid sorriu.
"Finalmente."
A Xeeksot se posicionou. O conflito estava prestes a começar.
E quando terminasse… Dressrosa seria o próximo destino.
...
O céu sobre Punk Hazard permanecia dividido. De um lado, fumaça quente subia em espirais lentas. Do outro, cristais de gelo refletiam a luz em tons pálidos. A ilha parecia respirar, como se lembrasse da guerra que a moldou.
A Xeeksot ainda estava ali. Kaien observava o horizonte com atenção. Algo estava vindo.
Lyra captou o sinal primeiro. Um den den mushi de longo alcance, transmitindo em frequência criptografada. Ela decodificou com rapidez.
"Navio se aproximando. Três assinaturas de calor. Um deles… pesado."
Law analisou os dados com frieza. "Não é a Marinha. É a Família Donquixote."
Kid sorriu, já ativando os campos magnéticos. "Finalmente."
Seraphine sobrevoou a costa. "Confirmado. É um navio de transporte modificado. Símbolo da Donquixote. Estão armados."
Kaien não hesitou. "Eles vieram buscar o que deixaram. Mas agora está em nossas mãos."
O navio atracou com brutalidade. Três figuras saltaram para a terra rachada.
Lao G, o veterano de combate. Buffalo, o transportador aéreo. Baby 5, a mulher-arma.
Eles não vieram negociar. Vieram recuperar.
Lao G avançou com os punhos cerrados. "Vocês estão em território que não pertence mais a ninguém. Mas o que está aqui… é nosso."
Kaien caminhou até o centro da clareira. O Solar Axe ainda preso às costas.
"Se quiserem, venham buscar."
Buffalo girava no ar, criando correntes de vento cortante. Baby 5 transformava os braços em metralhadoras. Lao G assumia postura de combate.
Kid e Killer se posicionaram. Law ativou sua nova técnica de toque interno. Lyra carregou as balas com Haki de Armamento. Seraphine ativou o Soru e desapareceu em velocidade. Ryujin cerrou os punhos, a pressão do mar vibrando em seus articulações. Bepo rosnava, os olhos fixos.
O primeiro impacto foi entre Kaien e Lao G. Punho contra punho. A terra afundou.
Lyra disparou contra Baby 5, desviando dos tiros com precisão. Cada bala dela agora carregava Haki — e cada impacto deixava marcas.
Kid puxou estruturas metálicas do solo, criando uma armadura improvisada. Killer girava em torno de Buffalo, tentando cortar as hélices.
Law tocou o ombro de Lao G por um instante. O velho cambaleou.
"O que foi isso?"
"Cirurgia interna," respondeu Law. "Sem cortes. Só pressão."
Seraphine reapareceu atrás de Baby 5, desferindo um Rankyaku que a lançou contra uma parede de gelo. Ryujin enfrentava Buffalo no ar, usando o Karatê Tritão para quebrar as correntes de vento.
Kaien ativou uma única onda do Pulso Pulsante. O chão tremeu. Lao G caiu de joelhos.
"Vocês vieram tarde demais."
O combate durou menos de vinte minutos. Mas foi suficiente.
Os subordinados recuaram. Não por medo. Mas por estratégia.
Antes de partir, Baby 5 deixou cair um dispositivo.
Lyra o recolheu. Era um rastreador. Com coordenadas.
Law analisou.
"Dressrosa. Eles estão voltando pra lá. E querem que a gente vá atrás."
Kaien olhou para o céu. Depois para a ilha.
"Então vamos."
A Xeeksot embarcou. Punk Hazard havia revelado seus segredos. Agora, era hora de seguir os rastros até o coração da teia.
Dressrosa os esperava.
