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Chapter 44 - Capítulo 40 – A Maré do Novo Mundo

O mar estava calmo. Não por paz. Mas por respeito.

A embarcação da Xeeksot cortava as águas em silêncio. Marineford já era uma sombra distante. O mundo havia mudado. Mas eles ainda estavam juntos.

Kaien permanecia na proa, os olhos fixos no horizonte. O Solar Axe repousava ao seu lado, envolto em um pano escuro. Não por descanso. Mas por luto.

Lyra ajustava os sistemas de navegação. Seraphine sobrevoava a embarcação em círculos, monitorando o clima. Kid e Killer discutiam sobre reforços na estrutura do navio. Law analisava mapas e rotas. Bepo dormia encostado em barris, exausto.

Eles não falavam muito. Mas não precisavam. A guerra havia deixado marcas que palavras não alcançavam.

Após dias de navegação, pousaram em uma ilha sem nome. Pequena. Isolada. Sem civilização. Apenas natureza e silêncio.

Era o lugar ideal para se recuperar. Para absorver tudo o que havia acontecido. Para entender o peso que carregavam.

Durante semanas, ninguém tocou em armas. Ninguém treinou. Apenas respiraram.

Mas o corpo não esquece. E o espírito não dorme.

Kaien foi o primeiro a se mover. Caminhou até o centro da ilha, onde havia uma clareira cercada por pedras. Ali, ativou o Pulso Pulsante. Não com força. Com precisão.

As ondas começaram a se reorganizar. Não em espiral. Mas em camadas.

Lyra o seguiu. Começou a treinar sua mira com Haki de Observação, tentando prever o movimento de folhas ao vento e tentando embutir Haki de armamento a suas balas a aumentando a perfuração. Seraphine aprimorou seu voo com Haki de Armamento, endurecendo as asas para suportar rajadas. Kid e Killer criaram um campo de impacto, onde testavam resistência e velocidade com Haki do Conquistador. Law desenvolveu uma nova técnica de Room, misturando Haki de Armamento com manipulação cirúrgica. Bepo, mesmo em silêncio, treinava com pedras e troncos, tentando canalizar o Haki em seus garras.

O tempo passou. Três meses.

E quando o sol nasceu no nonagésimo dia, todos estavam diferentes.

Kaien havia estabilizado as cem ondas. Lyra conseguia prever até cinco segundos à frente. Seraphine voava com precisão milimétrica. Kid e Killer sincronizavam seus ataques como se fossem um só. Law podia cortar sem ferir. Bepo havia endurecido o corpo com Haki de Armamento completo.

Eles não eram mais sobreviventes. Eram navegadores de uma nova era.

Kaien reuniu todos na praia. O navio estava pronto. A rota traçada.

— "Sabaody. Depois, a Ilha dos Tritões."

Ninguém questionou. A jornada havia recomeçado.

Eles partiram com o mar em silêncio. Mas o mundo já sentia o movimento.

...

Três meses haviam passado desde Marineford. O mundo ainda se reorganizava. Mas a Xeeksot já estava em movimento.

O navio cortava o mar com precisão. Não havia hesitação. A rota era clara: Sabaody, depois o fundo do mar.

Ao se aproximarem do arquipélago, o clima mudou. As bolhas flutuantes dançavam no ar, refletindo o sol como prismas. Mas o ambiente estava tenso.

A Marinha havia reforçado a vigilância. Caçadores de recompensa circulavam pelas docas. E rumores sobre a presença da Xeeksot já se espalhavam.

Kaien não se escondeu. Desceu do navio com o Solar Axe nas costas. Lyra e Seraphine o acompanhavam, enquanto Law, Kid, Killer e Bepo cuidavam da embarcação.

Eles não procuravam confronto. Mas também não evitavam.

Na praça central, um grupo de caçadores tentou interceptá-los. Kaien não os atacou. Apenas ativou uma única onda do Pulso Pulsante.

O chão tremeu. Os caçadores recuaram. E a Xeeksot seguiu em silêncio.

No Grove 41, encontraram o mecânico responsável pela manutenção do revestimento de bolhas. Law negociou com precisão. Em menos de uma hora, o navio estava pronto para submergir.

Antes de partir, Kaien olhou para o céu. O Novo Mundo os esperava. Mas o fundo do mar seria o primeiro teste.

A travessia foi tranquila. O navio desceu envolto em uma bolha protetora, guiado pelas correntes submarinas. Peixes gigantes os observavam. Ruínas passavam ao longe.

E então, a Ilha dos Tritões surgiu.

Colorida. Viva. Mas com olhos atentos.

A Xeeksot não foi recebida com festa. Foi recebida com cautela.

Kaien respeitou. Não exigiu nada. Apenas pediu passagem.

Durante a exploração, Lyra detectou uma estrutura antiga nas profundezas. Law confirmou: era um Poneglyph.

Eles desceram com equipamentos de mergulho adaptados. O bloco de pedra estava intacto, coberto por corais e algas. As inscrições eram claras.

Kaien não leu. Mas sentiu.

Era um fragmento da história. Um peso esquecido.

Enquanto observavam, foram abordados por um tritão.

Alto. Corpo marcado por cicatrizes. Olhos firmes.

— "Esse lugar não é para qualquer um."

Kaien se virou. Não respondeu. Apenas observou.

O tritão se apresentou como Ryujin. Mestre do Karatê Tritão. Ex-comandante de uma guarda extinta. Exilado por desafiar ordens internas.

Ele não buscava redenção. Buscava propósito.

Ao ver Kaien e sua tripulação diante do Poneglyph, sem arrogância, sem ambição, apenas respeito… Ryujin se ofereceu.

— "Se vocês carregam peso, quero ajudar a sustentá-lo."

Kaien não hesitou. Estendeu a mão.

Ryujin foi aceito.

A Xeeksot agora tinha um novo membro. E o fundo do mar havia revelado mais do que história. Havia revelado força.

...

A Ilha dos Tritões era viva, mas o silêncio entre Kaien e Ryujin era mais profundo que o mar.

O tritão se aproximou do grupo com passos firmes. Seus ombros largos, a pele marcada por listras pretas e brancas. Não era um tubarão. Não era um peixe comum. Era uma orca.

Ryujin, o exilado, era da espécie mais rara entre os tritões. A força física natural de sua raça já era superior à de qualquer humano. Mas o que o tornava único era o domínio absoluto do Karatê Tritão.

— "Sou mestre do estilo de pressão. Nível máximo de dan," disse, sem arrogância.

Kaien observava em silêncio. Não havia Haki em Ryujin. Nenhuma aura. Nenhuma presença espiritual.

Mas havia algo mais antigo. Mais bruto.

Kaien retirou o Solar Axe das costas e o cravou no chão. Caminhou até Ryujin com os punhos cerrados.

— "Vamos testar."

Ryujin não hesitou. Assumiu postura baixa, os pés firmes na areia molhada. As mãos abertas, os dedos curvados como garras.

Kaien avançou com um soco direto. Ryujin desviou com um giro de quadril e respondeu com um golpe de palma.

O impacto não foi apenas físico. Foi atmosférico.

A água ao redor vibrou. O ar se comprimiu. Kaien recuou dois passos, o braço formigando.

Ryujin havia canalizado a pressão do fundo do mar em seus punhos. Não era Haki. Era densidade.

Cada golpe carregava toneladas de força acumulada. Como se o oceano inteiro estivesse comprimido em seus articulações.

Kaien sorriu. Girou os ombros. Avançou novamente.

Dessa vez, não atacou. Recebeu.

Ryujin desferiu uma sequência de golpes: Palma, cotovelo, joelho, punho.

Kaien bloqueava com os antebraços, os músculos endurecidos apenas pela técnica. Sem Haki. Sem arma.

A areia se levantava. O campo se afundava.

Kid e Killer observavam em silêncio. Law cruzava os braços, analisando os padrões. Lyra mantinha a mão na pistola, por precaução. Seraphine pairava acima, pronta para intervir.

Mas Kaien não precisava.

Ele girou o corpo e desferiu um soco direto no abdômen de Ryujin. O tritão recuou, mas não caiu.

Sorriu.

— "Você não usa Haki agora?"

Kaien respondeu com um olhar.

— "Você também não. E ainda assim pesa."

Ryujin avançou com um golpe de palma ascendente. Kaien bloqueou com o antebraço e girou o corpo, desferindo um chute lateral.

O impacto lançou Ryujin contra uma rocha. Mas ele se levantou.

Ambos estavam ofegantes. Mas sorrindo.

O combate não era por vitória. Era por respeito.

Kaien estendeu a mão. Ryujin apertou.

— "Você não precisa de Haki," disse Kaien. — "Você carrega o mar nos punhos."

A Xeeksot havia ganhado mais do que um aliado. Havia ganhado um pilar.

E o fundo do mar havia testemunhado um combate que não era sobre poder. Era sobre peso.

...

O campo de treinamento estava silencioso. A areia ainda vibrava com os ecos do combate entre Kaien e Ryujin. Mas o que restava ali não era tensão. Era respeito.

Kaien permanecia de pé, os braços cruzados, observando o horizonte submerso. Ryujin, ao seu lado, respirava fundo. O tritão orca havia mostrado sua força — o Karatê Tritão em seu nível máximo de dan, capaz de canalizar a pressão do fundo do mar em seus punhos. Mas ele também havia sentido algo que não podia ignorar.

— "Você não usou Haki," disse Ryujin, quebrando o silêncio.

Kaien olhou para ele com calma.

— "Porque não precisava. Mas eu domino os três tipos. Armamento, Observação e Conquistador. Todos ao limite."

Ryujin abaixou a cabeça por um instante. Não por vergonha. Mas por compreensão.

— "Então sou eu quem precisa aprender."

Kaien assentiu.

— "Você tem força. Técnica. Instinto. Mas o mundo que estamos prestes a enfrentar exige mais. O Haki é o que separa os que sobrevivem dos que pesam."

Ryujin cerrou os punhos. A pressão do mar ainda vibrava em seus articulações. Mas ele sabia: aquilo não bastava.

— "Me ensine."

Kaien não respondeu com palavras. Apenas colocou a mão sobre o ombro do tritão.

— "Você vai aprender. No tempo certo."

Naquela noite, Kaien reuniu a tripulação.

Lyra, Seraphine, Kid, Killer, Law, Bepo e Ryujin se sentaram em círculo sobre a areia. O mar ao redor os envolvia como um véu silencioso. Era o primeiro momento de descanso desde Marineford.

Kaien não fez discursos. Apenas observou cada um.

Lyra havia refinado seu Haki de Observação ao ponto de prever movimentos com segundos de antecedência. Agora, treinava Haki de Armamento para canalizar nas balas — endurecendo o projétil antes do disparo, aumentando penetração e impacto. Ela testava em alvos de coral reforçado, ajustando o tempo entre o foco e o gatilho.

Kid treinava sozinho, aprimorando o controle magnético sobre metais raros, tentando manipular ligas que resistem ao Haki. Killer, por sua vez, focava em velocidade e precisão, desenvolvendo cortes que vibram em alta frequência para romper defesas endurecidas.

Law abandonou o Room temporariamente. Sabia que Haki embutido em sua técnica não funcionava como esperava. Agora, treinava uma nova abordagem: manipulação interna por toque direto, usando Haki de Armamento para afetar órgãos sem cortar. Era uma técnica cirúrgica, silenciosa e letal.

Seraphine havia deixado o treino de voo de lado. Voar era fácil. Agora, ela se dedicava aos Seis Estilos da Marinha — o Rokushiki. Dominava o Geppo e o Soru com naturalidade, mas agora treinava o Rankyaku e o Shigan, adaptando-os ao combate aéreo. Ela misturava agilidade com técnica, tornando-se uma combatente híbrida.

Bepo mantinha o foco em resistência. Seu Haki de Armamento estava estável, mas ele buscava aumentar a duração sob pressão extrema. Treinava em câmaras de água densa, simulando ambientes de combate prolongado.

Ryujin, por fim, começava do zero. Kaien o guiava nos fundamentos do Haki de Observação, ensinando a sentir intenções antes de movimentos. O tritão orca, mesmo experiente, se mostrava humilde. Absorvia cada ensinamento com disciplina.

Na manhã seguinte, Kaien dispensou os treinos.

— "Hoje, vamos andar."

A Ilha dos Tritões era vasta, cheia de vida e história. A tripulação se dividiu para explorar.

Lyra e Seraphine visitaram os mercados submersos, onde artesãos tritões criavam armas com conchas reforçadas. Kid e Killer testaram propulsores em cavernas de pressão. Law estudou inscrições antigas em um templo afundado. Bepo nadou com jovens tritões, ensinando técnicas de respiração da superfície. Ryujin acompanhou Kaien até uma fenda abissal, onde o mar parecia respirar.

Ali, Kaien falou pouco. Mas cada palavra pesava.

— "O Haki não é força. É vontade. E vontade não se ensina. Se desperta."

Ryujin permaneceu em silêncio. Mas algo dentro dele já se movia.

Ao cair da noite, todos se reuniram no navio. O revestimento de bolha estava intacto. Os mantimentos, repostos. O mapa, traçado.

Kaien subiu à proa. Olhou para o céu acima da água. Depois para o fundo do mar.

— "O mundo está esperando. E nós não vamos esperar por ele."

A Xeeksot embarcou. Ryujin assumiu posição ao lado de Bepo. Law ajustou os instrumentos. Kid e Killer ativaram os sistemas de propulsão. Lyra e Seraphine vigiaram os arredores.

Kaien segurou o Solar Axe. Mas não o ergueu.

O navio começou a subir. A bolha se expandiu. A luz da superfície se aproximava.

Eles não sabiam o que encontrariam no Novo Mundo. Mas sabiam quem eram.

E isso era suficiente.

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