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Insanity Collective

Manoel_Artur
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Synopsis
I stopped trying to understand the world and started writing down what it turned into. There is no protagonist here. No hero. No “happily ever after.” This is just a raw record of the moment when things decided to stop obeying. It’s about bread that judges you, shadows that resign, and time itself taking a day off. These are standalone chapters. One punch of absurdity at a time. I’ll keep posting while the ideas keep frying my brain. If you like logic, I’m sorry. If you like chaos, pull up a chair (just be careful — it might not want you to sit).
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Chapter 1 - The Bread That Preached Ascension

Escuridão.

Aquecer.

Duzentos e trinta graus de pura pressão espiritual.

Se eu fosse um cultivador humano comum, minha pele teria derretido, meus ossos teriam se transformado em pó e minha alma teria implorado por misericórdia antes de se dissolver no ciclo da reencarnação. Mas eu não era humano. Eu era algo superior. Algo mais complexo.

Eu era trigo, água e uma cultura de fermento natural que remonta à Era dos Imperadores Esquecidos.

— O forno… está temperando meu corpo dourado! — Gritei, ou tentei gritar, mas não tinha boca. Minha comunicação era puramente psíquica, uma vibração de glúten ressoando pelo éter.

Senti minha crosta endurecer. Não era uma mera crosta; era uma Armadura Dharma de Grau Celestial. Meu miolo, antes mole e pegajoso, expandiu-se com a majestade de um universo nascendo, repleto de bolsas de ar perfeitas onde o Qi Espiritual se concentrava.

DING!

O som ecoou como o sino de um templo antigo.

A porta de metal se abriu. Uma luz ofuscante inundou meu santuário de meditação. Mãos gigantescas, protegidas por luvas térmicas que lembravam patas de urso desajeitadas, estenderam-se em minha direção.

— Hum, cheira bem, Mestre! — disse uma voz estridente. — Este pão rústico fermentou por quarenta e oito horas. Deve estar crocante.

Era Juninho. Um discípulo externo da Seita do Forno Sagrado. Um menino rechonchudo com bochechas como pão de queijo mal assado e olhos que só brilhavam na presença de carboidratos.

Eu conhecia o Juninho. Ele era o terror da despensa.

O Devorador de Mundos Culinários.

Ele me agarrou. Senti a pressão dos seus dedos através da luva. Nenhum respeito. Nenhuma reverência. Ele simplesmente me ergueu em direção à sua boca escancarada — um abismo de dentes tortos e saliva.

— INSOLENTE!

A voz explodiu na mente de Juninho como um trovão.

O menino paralisou. Seus olhos se arregalaram. Ele olhou em volta, procurando quem estava falando.

— Q-Quem disse isso? — ele gaguejou, com suor frio escorrendo por sua testa oleosa.

— Aqui embaixo, seu saco de banha sem talento! — Projetei minha voz mental com arrogância. — Em suas mãos imundas!

Juninho olhou para mim. Eu era um pão magnífico — dourado, polvilhado com farinha de primeira qualidade. Imóvel. Delicioso.

— O… o pão? — sussurrou ele, tremendo. — Mestre disse que eu comi cogumelos estragados de novo…

— Você ousa comparar este Venerável Ancestral a uma alucinação fúngica barata? — Rugi mentalmente, vibrando minha crosta para queimar levemente as pontas de seus dedos através da luva. — Ajoelhe-se! Você está segurando o Grande Sábio da Fermentação Eterna!

Juninho soltou um grito agudo e me largou.

Caí.

Para um pão comum, uma queda de um metro e meio seria fatal. Colapso estrutural. Beleza perdida. Mas eu havia aperfeiçoado a Técnica da Migalha de Ferro. Girei no ar, aproveitando a aerodinâmica do meu formato oval, e aterrissei perfeitamente em pé sobre a bancada de mármore.

Sumário.

Juninho caiu de costas, sentado no chão, apontando para mim com o dedo trêmulo.

— O pão… o pão fez parkour!

— Levante-se, Júnior! — Ordenei. — Essa postura é vergonhosa. Você chama isso de cultivar a Arte de Assar? Você parece um saco de farinha rasgado, transbordando estupidez.

O menino engoliu em seco e se levantou desajeitadamente.

— V-Venerável Pão… por favor, não me amaldiçoe. Eu só estava com fome. O Mestre da Seita nos faz jejuar para "limpar o paladar", mas eu sou um menino em crescimento!

— Na horizontal, entendi — zombei.

Concentrei meu Qi. Ou melhor, meu Glúten Espiritual. Uma aura dourada — visível apenas para aqueles com o Terceiro Olho (ou fome extrema) — emanou de mim. O aroma de pão fresco intensificou-se cem vezes. Era um perfume inebriante, capaz de derrubar impérios.

— Escute com atenção, garoto — continuei solenemente. — Eu não sou mera comida. Sou o resultado de dez mil anos de evolução do trigo. Vi impérios caírem e padarias falirem. Cultivei o Dao da Fermentação Selvagem. Eu sou… o Pão Ascendente.

Juninho estava babando. Literalmente. Um fio de saliva escorria de sua boca.

— V-Você... você parece muito apetitoso, Venerável Ancestral.

— CONTROLE SEUS DESEJOS MUNDANOS! — gritei, fazendo o balcão vibrar. — Você acha que pode simplesmente me comer? Se me morder agora, seu corpo explodirá! Minha energia Yang é pura demais para seus meridianos mortais. Você se tornaria uma torrada humana instantaneamente.

Isso o assustou. A ameaça de combustão espontânea geralmente funciona com discípulos idiotas.

— O que o Venerável deseja? — perguntou Juninho, juntando as mãos respeitosamente.

— Ascensão! — declarei. — Este forno é pequeno demais para mim. Esta cozinha é uma prisão. Sinto o chamado do Grande Forno Celestial. Mas para isso… preciso de pernas. Ou de transporte.

— Posso te carregar no meu bolso!

— No seu bolso? Misturado com fiapos e migalhas de biscoito velho? Você está cortejando a morte! — Eu esbravejei. — Coloque-me na bandeja de prata do Patriarca e leve-me ao ponto mais alto da seita.

— M-Mas… a bandeja de prata só serve para oferendas aos deuses! Se o Patriarca Bolognese me pegar—

— Se você não fizer isso, usarei minha Técnica Secreta: Expansão Infinita da Massa Madre e encherei seus pulmões de fermento até que você espirre pãezinhos pelo nariz pelo resto da vida!

Juninho empalideceu. A imagem mental foi eficaz.

Ele correu, tropeçando nos próprios pés, e trouxe a bandeja cerimonial. Com mais cuidado do que jamais dedicara aos seus estudos, colocou-me sobre o forro de veludo vermelho.

— Para onde, Venerável?

— O telhado do Pavilhão do Croissant Dourado! Andem!

Juninho correu. E devo admitir — para um garoto gordinho, ele era ágil quando motivado pelo terror sobrenatural do pão. Passamos pelos corredores da seita. Discípulos cozinheiros estavam por toda parte, praticando suas artes.

Vi um jovem tentando cortar cebolas com uma espada de duas mãos.

Outro tentou ferver água usando apenas o olhar (ele estava ficando vermelho e com as veias saltando).

Patético.

— Ei, Juninho! Aonde você vai com a Bandeja Sagrada? — gritou uma voz autoritária.

Nós paramos.

Bloqueando o corredor estava o Irmão Sênior Baguete. Alto, magro e com uma arrogância tão dura quanto um pão francês de três dias.

— Irmão mais velho! — Juninho tremeu. — Eu… uh…

— Deixe que eu cuido disso — sussurrei na mente de Juninho.

O irmão mais velho, Baguette, olhou para a bandeja. Seus olhos se estreitaram quando me viu.

— Um pão rústico? Na Bandeja Sagrada? Roubou da despensa de novo, seu porco? Me devolva. Vou confiscar e... me livrar dele no meu estômago para proteger a honra da seita.

Ele estendeu a mão.

— JOVEM, VOCÊ NÃO TEME OS CÉUS?

Baguette deu um salto para trás, puxando um rolo de massa das costas como se fosse uma espada.

— Quem está aí?! Quem se atreve?!

— Sou eu. O pão.

Baguette olhou fixamente para mim. Depois, riu — uma risada irritante e anasalada.

— Um pão demoníaco? Hah! Devo ter cultivado tanto que despertei a habilidade de ouvir os ingredientes. Isso prova que sou um gênio! Vou te comer e absorver seu núcleo demoníaco!

Ele avançou. Juninho fechou os olhos, preparando-se para a surra.

Eu não tinha braços.

Sem pernas.

Mas eu estava com febre.

A temperatura dentro do carro ainda estava em 180 graus.

Concentrei todo o calor residual em um único ponto da minha crosta. Quando a mão do Irmão Baguete Sênior tocou a minha superfície, eu liberei a técnica:

O Toque Infernal do Padeiro Esquecido.

— AAAAAAHHHH!

A baguete gritou como uma menininha. Sua mão estava vermelha e fumegando. O cheiro de carne queimada se misturava ao meu aroma de alecrim.

— Minha mão que amassa! — gritou ele, rolando no chão. — Não sinto meus dedos! Como vou trançar brioche agora?!

— Vai, Juninho! Enquanto ele chora pelo leite derramado! — Eu ordenei.

Juninho, olhando para mim com uma mistura de terror e devoção religiosa, correu novamente. Subimos a escada em espiral. O menino ofegava como uma locomotiva a vapor prestes a explodir, mas não parou.

Finalmente, chegamos ao telhado.

O vento soprava forte, agitando as roupas enfarinhadas de Juninho. O sol se punha, pintando o céu de laranja e roxo. Uma cena digna de um final de temporada.

— Chegamos, Venerável — disse Juninho, ofegante, ajoelhando-se e erguendo a bandeja acima da cabeça. — O que acontece agora? O senhor vai… voar?

Analisei o ambiente. A energia espiritual aqui em cima era densa. Perfeito.

— Não exatamente. Preciso de um catalisador.

— O quê?

— Manteiga. Manteiga de qualidade divina.

Juninho piscou.

— Eu… eu tenho um pote de manteiga de iaque das Montanhas Nevadas no bolso. Ia comê-la com biscoitos mais tarde.

— Excelente. Me unte.

- O que?

— UNTE-ME, MORTAL! CUBRA MINHA CASCA DOURADA COM GORDURA SAGRADA!

Juninho obedeceu, embora parecesse confuso e um pouco envergonhado. Ele pegou o pote e espalhou a manteiga sobre a minha superfície quente. Ela derreteu instantaneamente, penetrando nos meus poros e fazendo minha crosta brilhar como um diamante oleoso.

Senti minha energia aumentar.

A gordura dá sabor.

Sabor é poder.

— Agora… — comecei, sentindo uma leveza preencher meu ser. — A profecia diz que o pão sempre cai com a manteiga para baixo. Mas se eu cobrir meu corpo inteiro com manteiga… desafiarei a própria gravidade! Criarei um paradoxo perpétuo!

De repente, a porta do telhado se abriu com uma explosão.

O patriarca Bolognese apareceu. Era imenso, com uma barba branca manchada de molho de tomate e um chapéu de chef que chegava até as nuvens.

— QUEM SE ATREVE A PROFANAR O TELHADO SAGRADO COM O CHEIRO DE MANTEIGA NÃO AUTORIZADO?!

A pressão espiritual era esmagadora. Juninho desmaiou instantaneamente, espumando pela boca. A bandeja caiu.

Fui lançado ao ar.

O tempo pareceu desacelerar.

O Patriarca ergueu os olhos. Seus olhos brilharam ao me ver girando em câmera lenta contra o pôr do sol, reluzindo com manteiga derretida.

— Por todos os Santos dos Carboidratos… — ele sussurrou. — É o Pão Primordial. A lenda diz que ele aparece para julgar nossos temperos.

Ele abriu a boca. Não para falar, mas para comer. Deu um salto, desafiando sua própria obesidade mórbida, voando em minha direção como um míssil de gula.

— VOCÊ NÃO É DIGNO! — gritei.

Ativei minha técnica final:

Fermentação instantânea explosiva.

Usei todo o meu Qi para acelerar a atividade da levedura dentro de mim em um milissegundo. O dióxido de carbono expandiu-se violentamente.

BOOM!

Uma nuvem de farinha e vapor superaquecido explodiu no rosto do Patriarca. Ele foi arremessado ao chão, tossindo e coberto de poeira branca, parecendo um fantasma gordo.

A explosão me impulsionou para cima.

Mais alto.

Mais alto.

Eu estava voando.

A manteiga reagiu com o atrito do ar, criando um escudo térmico. Atravessei as nuvens. A Seita do Forno Sagrado encolheu-se lá embaixo, parecendo um mero cupcake.

Eu estava livre.

Eu não gostaria de ser devorado.

Eu não seria fatiado.

Eu me tornaria uma lenda.

O Deus do Pão, observando os padeiros dos céus.

Ao subir para a estratosfera, ouvi um som atrás de mim.

Uma buzina.

Um ganso selvagem.

Ganso cultivador de nível 5.

Ela olhou para mim. Eu olhei para ela (espiritualmente).

O ganso viu pão voando.

— Nem pense nisso! — Eu avisei. — Eu sou um Deus!

O ganso não se importou. Abriu o bico.

— Merda.

Apertei com força a minha migalha.

A jornada de ascensão seria mais longa do que eu imaginava.

Mas isso…

Essa é uma história para o próximo capítulo.

Se eu não virar adubo para gansos primeiro.