— Isso é ridículo! — Tíwaz brandia a foice, longa, segura por duas mãos. Era a arma com que se saía melhor nos treinamentos. — Ela só não quis se casar com aquele maldito, e agora não tem onde morar! E o diretor ainda puniu a Yorranna!
Diante dele estava Moeg'Tullam, atacando-o com bruta maça-estrela, cada porrada fazia a foice tremer, e jogava o servo a metros de distância no salão de treinamento.
— Tudo é vaidade, Tíwaz. Não foi a recusa que o ofendeu, foi a humilhação de ser desprezado pela nobre manchada. — o servo perdera a paciência com a situação de Bollomixiana, e confiou a mesma à mestra.
Antes, pela manhã, Bollomixiana assumiu do assédio do diretor Áster, e da família desse, os influentes Lindar Scla'Veldr.
— A luta foi tão em cima da hora que acabei nem assistindo. Bollomixiana se saiu bem?
— Luta é um jeito de encarar, foi mais um massacre, o que não ajudou as irmãs Gryzaekov.
— Gryzaekov?
— As fhaurens na tua casa.
— Nunca vou lembrar esse monte de nomes.
— Não precisa lembrar de todos, mas, atenta-se aos D'.
— D'?
— Isso, significa que o nobre pertence do segundo ramo familiar em diante. Os que não possuem essa letra entre os sobrenomes são complicados, tente não os irritar.
— Esse é meu esforço desde antes de chegar aqui. — Tíwaz avançou, com a mestra dando passos para trás, e depois saltando para fugir do corte.
Enquanto Moeg'Tullam estava no ar, o humano jogou a foice, girando, e a mestra teve que pensar antes de rebater a arma corretamente, ao tocar o chão, ele a socou, visando o rosto.
E ela se abaixou, socando-o de baixo para cima, no queixo.
Tíwaz, mesmo com o corpo transfigurado, foi derrubado instantaneamente.
— Sério? Que exorbitância! — Yorranna, que chegava para assistir ao treinamento, acudiu o amigo caído.
Curou-o com o próprio sangue, que pingava do pulso direito, enquanto segurava o rosto desacordado contra as coxas grossas.
De joelhos, a jovem fhauren percebeu a expressão assustada da mestra, que passou quando os olhares se encontraram.
— Ele tentou algo contra você?
— Ele? O diretor Áster?
— Não. Esse humano.
— É claro que não. — ofendeu-se Yorranna com a questão de Moeg'Tullam. — Eu confio em Tíwaz.
— Você não sabe do que os humanos são capazes. Eles usam máscaras sociais quando diante de outros, e são luxuriosos quando a sós com fêmeas.
— Tíwaz não é assim.
— Todos são. Tua inocência me lembra do problema dos barcos.
— Não me interessa, se desculpe com Tíwaz!
— Me desculpo se me responder corretamente ao problema.
Yorranna suspirou:
— Fala logo.
— Imagine que você está em um barco com cem pessoas no oceano. É bem ao norte. O barco começa a afundar e não é possível viver por mais de segundos nas águas geladas. Chega outro barco, mas só cabem cinquenta pessoas nele. Se você não fizer nada, ou todos vão morrer brigando entre si, ou todos vão morrer congelados. Você mata cinquenta para salvar cinquenta?
— Que pergunta idiota, é óbvio que salvo os cinquenta.
— Bem, é uma noite ruim. Seu barco com cinquenta pessoas começa a afundar. Nesse momento chega outro barco, onde cabem apenas vinte e cinco pessoas. O que você faz?
— Entendi, quer me mostrar que se eu escolher salvar vinte e cinco terei matado setenta e cinco?
— Quase isso, mas o exemplo não acaba aqui. Vamos, como resolve a situação? Deixa todos morrerem?
— Não, salvo os vinte e cinco.
— A parte final, o barco com vinte e cinco pessoas começa a afundar, e, chega outro barco, onde só cabem cinco pessoas. Porém, você nota que estão contigo as cinco pessoas que você mais ama. Você salva os seus, podem ser seus pais, seus irmãos, quem lhe for favorito. Ou prefere salvar cinco desconhecidos?
— Os meus, é claro!
— Esse é o raciocínio humano. Deixe-me explicar. Na primeira vez, sua resposta segue o senso comum. Deixar os cem morrerem ou criar algum método para salvar cinquenta? Talvez mulheres e crianças primeiro, ou fhaurens primeiro, qualquer regra que seja bem aceita pela sociedade. Na segunda vez, é o que você faz quando ninguém está olhando, a moral, tudo bem matar a maioria para salvar a minoria, dependendo da situação. Por fim, sua humanidade, numa situação de crise, primeiro os meus, é assim que todo humano pensa. O amor é a raiz de todo o ódio e desigualdade.
— Não entendi, qual era a resposta correta?
— Saiba o seu lugar, Yorranna. Você é uma fhauren.
— E como uma fhauren resolveria o problema dos barcos?
— Observaria, se fossem cem humanos, deixaria os cem morrerem e iria embora sozinha no barco dos cinquenta.
— E se fossem cem fhaurens?
— Responderia como você. — ajoelhou-se a mestra ao lado de Yorranna, e segurou o rosto da jovem fhauren, as línguas encontraram-se e os beijos tornaram-se longos e molhados, e a boca de Yorranna fora explorada pela língua de Moeg'Tullam.
Viu-as Tíwaz quando abriu os olhos.
Yorranna corada perdia o ar, quente, apreciava e retribuía a língua na própria língua.
Persistiu por mais do que ele esperava.
— Você é melhor que tua irmã. — provocou a mestra, e depois rumou aos altos lagos artificiais.
Moeg'Tullam foi seguida pela vermelha Yorranna.
E, sem entender nada, Tíwaz permaneceu nos lagos baixos, sem conseguir perder o sorriso no rosto enquanto se banhava.
