Bollomixiana foi chamada para a sala do Diretor Áster.
Na ilha flutuante, devido às distâncias, existiam trinta e três províncias com centenas de distritos.
Cada província possuía o próprio líder, que também conservava função distinta.
Acima das trinta e três lideranças, somente a voz da chanceler.
Áster era o responsável pela logística, armazenamento e distribuição de alimentos de toda a ilha.
Sob ordens, mil e trezentos servos, a maioria da própria família, nascidos e criados em Marés entre Nuvens.
No galpão de armazenamento do andar cento e treze, numa das paredes laterais além de segmentos de escadarias enferrujadas, o escritório de Áster, sala vítrea, de iluminação fraca, com visão panorâmica para as pilhas de sacarias.
Era o corcunda, cavaleiro de cabelos longos e brancos, com grandes entradas. Magro e baixo, de barba até a barriga. Na libré, medalhas de honra pelos anos de serviços prestados à Árvore Cinzenta.
Na geração dele, terminou a Liga negativo, em menos cinco, mas ascendeu socialmente devido ao sobrenome, era o cavaleiro dos Lindar Scla'Veldr, sobrenome do último campeão invicto do Ultimato, isso duzentos e cinquenta e sete anos antes.
— Ordenaste, e cá estou, diretor Áster. — Bollomixiana percebera a repulsa na face vampírica suavizar.
Era comum que a vislumbrassem de formas vis.
— Sente-se, manchada, que vossa sorte mudou. O tempo é gentil aos fracos, e os eleva, por vezes, acima do próprio Deus.
Bollomixiana permitiu àquele homem que tivesse a impressão de controle, obedecendo-o.
— De que se trata? Tenho minha segunda luta ainda hoje. Foi adiantada contra minha vontade, estou certa em ver suas mãos nisso?
— Que atenciosa. Receio que meus movimentos não sejam mais tão silenciosos, coisas da idade, chegará a ti também, não me fite com tanto desgosto. Em menos de trezentos anos, esse sangue. — apontou às veias saltadas do pulso. — Além de invicto campeão, conseguiu ser eleito mais duas vezes. Eu mesmo fui um deles, e agora o menino que enfrentar-te-á é o outro, de meus sobrinhos.
— Qual o significado disso?
— Aliança. Sua situação é crítica, e arranjos são feitos nas sombras. Os sons são como correntes, visam te arrastar para muitos reinos, mesmo em único objetivo, aprisionar-te. Sem a proteção dos Gryzaekov, muitos brincam com vosso futuro. Há desejo por sua carne e sangue.
— Não os temo.
— Nem por sua irmã? — a imagem de Yorranna veio-lhe à mente.
E o os olhos fundos do diretor souberam, atingira ponto vulnerável.
— Ela pode se defender, tão bem quanto eu. Talvez até melhor.
— Ainda não lutou, então existem dúvidas. Dizem que em tua família é você a insigne. E que a outra é inútil, futura negativa. Por que não poupar esses esforços? Por que não acordar nossos destinos?
— Que me oferta? Sê breve, bem vejo que lhe meto medo.
— Certamente, vossa arte com a espada é a maior inveja dessa vida velha.
— Algo difícil de ser assumido foi dito como se nada fosse. Despertara meu interesse. Apresenta tua proposta indecorosa.
— Seu casamento com meu sobrinho, e sua derrota. E a mão de vossa irmã para meu harém, será Yorranna minha trigésima nona esposa. Adianto-te, após o herdeiro, não me importaria de ter meu parente em acidente, ou evento lamentável equivalente. Será livre, viúva, e acolher-te-ei em meu lar. Sou alma piedosa. Permitirei que adormeça ao lado de vossa consanguínea, em nosso leito. E, juro-lhe, tratarei tua prole como os muitos herdeiros que farei em sua irmã menor. Indeferirá de realeza em nosso lar.
— Não se importa com o menino de seu nome?
— Ele terminará zerado, lutou, ganhou, e foi derrotado, e chega ao Ultimato em menos um. Foi eleito para passar as sementes adiante, e as Gryzaekov são vasos de elite. Sê dele o depósito. Sei que está sem a pensão. E existem ordens de despejo, de seu lar, e do lar de vossa irmã. As favelas podem as receber bem, contudo, as duas tolerariam essa coexistência, ou os nébridos despojos da labuta nas esteiras do progresso?
Áster a ameaçava com a armadilha que preparara em segredo. E o despejo da arquiduquesa manchada era certo, caso ela recusasse a aliança.
— Ainda há tempo para a luta. — Bollomixiana sabia estar diante de inimigo poderoso, e, pela primeira vez em muito, não soube como revidar. — Responder-lhe-ei em duelo.
— Com a derrota?
— Não me vejo com escolhas.
— Todo homem aprecia a fêmea que sabe seu lugar. — Áster proclamou com repulsa e ela deixou a sala, dirigindo-se à arena principal.
Ele pronunciou a si mesmo, quando só:
— Fhauren imunda. Após a derrota verá-se ainda mais em minhas mãos, teu corpo foi esculpido como presente a meus desejos. — ele sentiu sede de sangue, almejava a devorar.
Após descer pelos elevadores, e retornar aos aposentos na Torre de Esmeralda, onde nobres de títulos elevados eram alocados, Bollomixiana vestiu-se e afiou o Leão do Entardecer.
No rosto dela, fez-se nefasto sorriso conforme a aura alterava os olhos acesos entre azul, verde e vermelho.
Pouco depois, encontrou-se com Milles dos Lindar D' Scla'Veldr na sala de espera do coliseu, enquanto a mestra Forsetis discursava à Sanguinolência lotada.
A audiência chegava aos cem milhões de televisores conectados, assistindo a plateia na espera dos duelistas.
— Desista, e vamos comemorar com minhas servas, são adoráveis. Fazem de tudo diante de nosso sangue superior. — Milles intentou o toque na cintura de Bollomixiana, nas vestes militares.
— Se me vencer, submeto-me a teus caprichos.
— Todos eles?
— E ainda serei grata. — ela juramentou, e ele engoliu a seco, esboçando o sorriso abobado, como menino diante de novo brinquedo a planejar quebrá-lo.
Tinha cabelos loiros penteados para trás, longos e com laços, e com o peitoral à mostra exibia músculos definidos. Ele prometeu:
— Alargar-te-ei essa noite, até o rubro amanhecer.
Ela ouviu, entediada.
Não era a primeira vez que escutava obscenidades.
Quase sentiu pena, não fosse a ameaça à irmã, talvez, apenas talvez, Bollomixiana se segurasse.
Quando chegaram na arena, a mestra Forsetis contou dez passos, e teve início o combate.
Milles assistiu e reassistiu aos torneios de Bollomixiana.
Diante de inimigo fisicamente superior, ela evitava a proximidade.
Assim ele correu, aumentando os reforços corporais, o que a fhauren, após banhar a lâmina com o próprio sangue, também fez, surpreendendo-o.
Eles se encontraram no centro da arena, com as espadas tilintando, mais e mais velozes até que os mais fracos deixaram de ver os movimentos das lâminas, enxergando somente vultos.
Ela elevou a arma atrás de si, tão veloz que Milles não conseguira acompanhar com o machado, o Vórtice Cerúleo, inteiro em prata e tungstênio.
Ele reforçou o corpo outra vez, com as costas crescendo cobertas de pelos azuis transfigurados, era o terceiro aprimoramento, e preparou-se para o corte.
Enquanto o machado de duas mãos elevava-se no ar, o golpe da espada acertou na altura da costela esquerda de Milles, perfurando a carne até o centro do tronco.
Foi seguido do chute alto, com Bollomixiana parando o pé próximo do próprio rosto.
O corpo perfurado moveu-se, com a espada parada, antes dentro da carne, retendo a direção do sangue que se espalhou conforme Milles arrastava-se na arena.
A plateia vibrou.
Milles buscou fôlego, tocando o chão com as duas mãos, para se levantar, contudo, Bollomixiana estava em cima dele.
O Leão do Entardecer fez sombra no rosto apavorado.
A arquiduquesa não mirou na cabeça, e sim no estendido braço esquerdo, que se quebrou em fratura exposta, depois, ela fincou a arma na arena, transpassando a rocha ao lado da orelha esquerda de Milles, gritando, perdendo a consciência diante da dor do braço retorcido.
Ele recobrou a consciência ouvindo repetitivo som interno, do próprio crânio sendo, por socos, esmagados contra o chão.
A multidão que comemorava perdia a intensidade. A cada soco desferido contra a cabeça de Milles, ensanguentada, mais do silêncio tomava os anéis de arquibancada sobrepostos da Sanguinolência.
E novos golpes desfiguraram o rosto, a própria pele reforçada, e o crânio destruído exposto na carne dilacerada.
E ela não parou de golpear, de humilhar.
Assistindo a tudo da própria sala, o diretor Áster perdeu a compostura, e chutou a escrivaninha contra o enorme espelho que transmitia a luta.
O espelho trincou, exibindo imagens divididas em muitas partes por cada rachadura.
Depois, enquanto a juíza começava a contagem, Bollomixiana levantara-se, e estendeu a mão para Milles, mordendo o próprio pulso, o banhando em sangue, regenerando-o.
O rosto de Milles foi reconfigurado enquanto ele gritava de dor.
Quando se curou, Forsetis parou de contar.
A luta não terminaria tão fácil.
Ela montou nele, voltando a socar o rosto destruído em ossos e dentes quebrados conforme as proteções vampíricas perdiam-se.
Milles chorou, e implorou, e a fhauren apreciou cada instante.
Ela sabia, nas mãos dele, ou de qualquer outro daquela família desgraçada, seria ela a sofrer sem que se importassem.
E fez e o refez, até que na quarta vez o Scla'Veldr não tinha mais aura suficiente para permanecer desperto. Deixou-o, irreconhecível após o massacre, até que a contagem de Forsetis, finalmente, chegou a dez.
