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Chapter 14 - LINDAR SCLA’VELDR 

Bollomixiana foi chamada para a sala do Diretor Áster. 

Na ilha flutuante, devido às distâncias, existiam trinta e três províncias com centenas de distritos. 

Cada província possuía o próprio líder, que também conservava função distinta. 

Acima das trinta e três lideranças, somente a voz da chanceler.

Áster era o responsável pela logística, armazenamento e distribuição de alimentos de toda a ilha. 

Sob ordens, mil e trezentos servos, a maioria da própria família, nascidos e criados em Marés entre Nuvens. 

No galpão de armazenamento do andar cento e treze, numa das paredes laterais além de segmentos de escadarias enferrujadas, o escritório de Áster, sala vítrea, de iluminação fraca, com visão panorâmica para as pilhas de sacarias. 

Era o corcunda, cavaleiro de cabelos longos e brancos, com grandes entradas. Magro e baixo, de barba até a barriga. Na libré, medalhas de honra pelos anos de serviços prestados à Árvore Cinzenta. 

Na geração dele, terminou a Liga negativo, em menos cinco, mas ascendeu socialmente devido ao sobrenome, era o cavaleiro dos Lindar Scla'Veldr, sobrenome do último campeão invicto do Ultimato, isso duzentos e cinquenta e sete anos antes. 

— Ordenaste, e cá estou, diretor Áster. — Bollomixiana percebera a repulsa na face vampírica suavizar. 

Era comum que a vislumbrassem de formas vis. 

— Sente-se, manchada, que vossa sorte mudou. O tempo é gentil aos fracos, e os eleva, por vezes, acima do próprio Deus. 

Bollomixiana permitiu àquele homem que tivesse a impressão de controle, obedecendo-o. 

— De que se trata? Tenho minha segunda luta ainda hoje. Foi adiantada contra minha vontade, estou certa em ver suas mãos nisso? 

— Que atenciosa. Receio que meus movimentos não sejam mais tão silenciosos, coisas da idade, chegará a ti também, não me fite com tanto desgosto. Em menos de trezentos anos, esse sangue. — apontou às veias saltadas do pulso. — Além de invicto campeão, conseguiu ser eleito mais duas vezes. Eu mesmo fui um deles, e agora o menino que enfrentar-te-á é o outro, de meus sobrinhos. 

— Qual o significado disso? 

— Aliança. Sua situação é crítica, e arranjos são feitos nas sombras. Os sons são como correntes, visam te arrastar para muitos reinos, mesmo em único objetivo, aprisionar-te. Sem a proteção dos Gryzaekov, muitos brincam com vosso futuro. Há desejo por sua carne e sangue. 

— Não os temo.

— Nem por sua irmã? — a imagem de Yorranna veio-lhe à mente.

E o os olhos fundos do diretor souberam, atingira ponto vulnerável. 

— Ela pode se defender, tão bem quanto eu. Talvez até melhor. 

— Ainda não lutou, então existem dúvidas. Dizem que em tua família é você a insigne. E que a outra é inútil, futura negativa. Por que não poupar esses esforços? Por que não acordar nossos destinos? 

— Que me oferta? Sê breve, bem vejo que lhe meto medo. 

— Certamente, vossa arte com a espada é a maior inveja dessa vida velha. 

— Algo difícil de ser assumido foi dito como se nada fosse. Despertara meu interesse. Apresenta tua proposta indecorosa. 

— Seu casamento com meu sobrinho, e sua derrota. E a mão de vossa irmã para meu harém, será Yorranna minha trigésima nona esposa. Adianto-te, após o herdeiro, não me importaria de ter meu parente em acidente, ou evento lamentável equivalente. Será livre, viúva, e acolher-te-ei em meu lar. Sou alma piedosa. Permitirei que adormeça ao lado de vossa consanguínea, em nosso leito. E, juro-lhe, tratarei tua prole como os muitos herdeiros que farei em sua irmã menor. Indeferirá de realeza em nosso lar. 

— Não se importa com o menino de seu nome? 

— Ele terminará zerado, lutou, ganhou, e foi derrotado, e chega ao Ultimato em menos um. Foi eleito para passar as sementes adiante, e as Gryzaekov são vasos de elite. Sê dele o depósito. Sei que está sem a pensão. E existem ordens de despejo, de seu lar, e do lar de vossa irmã. As favelas podem as receber bem, contudo, as duas tolerariam essa coexistência, ou os nébridos despojos da labuta nas esteiras do progresso? 

Áster a ameaçava com a armadilha que preparara em segredo. E o despejo da arquiduquesa manchada era certo, caso ela recusasse a aliança. 

— Ainda há tempo para a luta. — Bollomixiana sabia estar diante de inimigo poderoso, e, pela primeira vez em muito, não soube como revidar. — Responder-lhe-ei em duelo. 

— Com a derrota? 

— Não me vejo com escolhas. 

— Todo homem aprecia a fêmea que sabe seu lugar. — Áster proclamou com repulsa e ela deixou a sala, dirigindo-se à arena principal. 

Ele pronunciou a si mesmo, quando só:

— Fhauren imunda. Após a derrota verá-se ainda mais em minhas mãos, teu corpo foi esculpido como presente a meus desejos. — ele sentiu sede de sangue, almejava a devorar. 

Após descer pelos elevadores, e retornar aos aposentos na Torre de Esmeralda, onde nobres de títulos elevados eram alocados, Bollomixiana vestiu-se e afiou o Leão do Entardecer. 

No rosto dela, fez-se nefasto sorriso conforme a aura alterava os olhos acesos entre azul, verde e vermelho. 

Pouco depois, encontrou-se com Milles dos Lindar D' Scla'Veldr na sala de espera do coliseu, enquanto a mestra Forsetis discursava à Sanguinolência lotada. 

A audiência chegava aos cem milhões de televisores conectados, assistindo a plateia na espera dos duelistas. 

— Desista, e vamos comemorar com minhas servas, são adoráveis. Fazem de tudo diante de nosso sangue superior. — Milles intentou o toque na cintura de Bollomixiana, nas vestes militares. 

— Se me vencer, submeto-me a teus caprichos. 

— Todos eles? 

— E ainda serei grata. — ela juramentou, e ele engoliu a seco, esboçando o sorriso abobado, como menino diante de novo brinquedo a planejar quebrá-lo. 

Tinha cabelos loiros penteados para trás, longos e com laços, e com o peitoral à mostra exibia músculos definidos. Ele prometeu:

— Alargar-te-ei essa noite, até o rubro amanhecer. 

Ela ouviu, entediada. 

Não era a primeira vez que escutava obscenidades. 

Quase sentiu pena, não fosse a ameaça à irmã, talvez, apenas talvez, Bollomixiana se segurasse. 

Quando chegaram na arena, a mestra Forsetis contou dez passos, e teve início o combate. 

Milles assistiu e reassistiu aos torneios de Bollomixiana. 

Diante de inimigo fisicamente superior, ela evitava a proximidade. 

Assim ele correu, aumentando os reforços corporais, o que a fhauren, após banhar a lâmina com o próprio sangue, também fez, surpreendendo-o. 

Eles se encontraram no centro da arena, com as espadas tilintando, mais e mais velozes até que os mais fracos deixaram de ver os movimentos das lâminas, enxergando somente vultos. 

Ela elevou a arma atrás de si, tão veloz que Milles não conseguira acompanhar com o machado, o Vórtice Cerúleo, inteiro em prata e tungstênio. 

Ele reforçou o corpo outra vez, com as costas crescendo cobertas de pelos azuis transfigurados, era o terceiro aprimoramento, e preparou-se para o corte. 

Enquanto o machado de duas mãos elevava-se no ar, o golpe da espada acertou na altura da costela esquerda de Milles, perfurando a carne até o centro do tronco. 

Foi seguido do chute alto, com Bollomixiana parando o pé próximo do próprio rosto. 

O corpo perfurado moveu-se, com a espada parada, antes dentro da carne, retendo a direção do sangue que se espalhou conforme Milles arrastava-se na arena. 

A plateia vibrou.

Milles buscou fôlego, tocando o chão com as duas mãos, para se levantar, contudo, Bollomixiana estava em cima dele. 

O Leão do Entardecer fez sombra no rosto apavorado.

A arquiduquesa não mirou na cabeça, e sim no estendido braço esquerdo, que se quebrou em fratura exposta, depois, ela fincou a arma na arena, transpassando a rocha ao lado da orelha esquerda de Milles, gritando, perdendo a consciência diante da dor do braço retorcido. 

Ele recobrou a consciência ouvindo repetitivo som interno, do próprio crânio sendo, por socos, esmagados contra o chão. 

A multidão que comemorava perdia a intensidade. A cada soco desferido contra a cabeça de Milles, ensanguentada, mais do silêncio tomava os anéis de arquibancada sobrepostos da Sanguinolência. 

E novos golpes desfiguraram o rosto, a própria pele reforçada, e o crânio destruído exposto na carne dilacerada.

E ela não parou de golpear, de humilhar. 

Assistindo a tudo da própria sala, o diretor Áster perdeu a compostura, e chutou a escrivaninha contra o enorme espelho que transmitia a luta. 

O espelho trincou, exibindo imagens divididas em muitas partes por cada rachadura. 

Depois, enquanto a juíza começava a contagem, Bollomixiana levantara-se, e estendeu a mão para Milles, mordendo o próprio pulso, o banhando em sangue, regenerando-o. 

O rosto de Milles foi reconfigurado enquanto ele gritava de dor. 

Quando se curou, Forsetis parou de contar. 

A luta não terminaria tão fácil. 

Ela montou nele, voltando a socar o rosto destruído em ossos e dentes quebrados conforme as proteções vampíricas perdiam-se.

Milles chorou, e implorou, e a fhauren apreciou cada instante. 

Ela sabia, nas mãos dele, ou de qualquer outro daquela família desgraçada, seria ela a sofrer sem que se importassem. 

E fez e o refez, até que na quarta vez o Scla'Veldr não tinha mais aura suficiente para permanecer desperto. Deixou-o, irreconhecível após o massacre, até que a contagem de Forsetis, finalmente, chegou a dez.

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