Cherreads

Chapter 12 - DONATIEN

As duas servas o seguiram até a poltrona. 

Elas permaneciam ajoelhadas, mamando alternadamente. 

E ele sentado, sentindo as duas bocas enquanto segurava o telefone. 

— Tíwaz! — após alguns diálogos sem saber ao certo quem falava do outro lado da linha, encheu-se Gremory Donatien de alegria, e inteirou assuntos. Era Tíwaz único, entre os alunos desde a viagem, com quem conversou e não foi destratado. — As aulas são horríveis! Mestre Irvine é a insanidade encarnada! Ele acredita na força bruta acima de qualquer outra vertente de estudo. E, logo eu, que dos prazeres da vida não ouso abdicar, por temer as leis dessa existência. Pode? O homem recusar… — Gremory deu prolongado gemido. 

— Donatien? 

— Perdão, pode, o homem recusar do néctar da Criação sem ser punido? Reconheço, Vallensarnov, que sou como o urso. 

— Robusto? 

— Também, e nascido para a hibernação. — Zenith passou para Pomarola, que da saliva da prima fez molhado banquete, o que calou o nobre, até a amamentação diária daquela que não deixou cair nenhuma gota encerrar-se com beijos. Olhavam-o as duas de baixo, mordendo as coxas gordas do senhor. — E alimentando-me, e satisfeito voltando a dormir. Malditos treinamentos. Nos dias de descanso tenho que apagar a lareira, ou Irvine invade minha morada. Não conhece modos, e não se importa de ser visto arrastando-me pelas ruas. O que me afastou, ainda mais, dos bons contatos. Obrigado por ligar. 

— Sinto muito, Donatien. Quando quiser desabafar estou aqui. Sempre permaneço em casa quando a noite chega. Pode ligar tarde, acho que você também não dorme, certo? Tenho sua atenção? 

— Totalmente. — e após o movimento da cabeça de Zenith reiniciar as chupadas, o nobre adicionou. — Quase totalmente…

— Perdão, se está em hora desafortunada… 

— Não, pequeno Tíwaz, sinto os lábios esculpidos do próprio Deus, não há maior fortuna. 

— Eis o desagrado, não ligaria em outra circunstância. Me adiantaria a próxima estação, em ouro?

Tíwaz ainda tinha a maior parte das moedas que recebeu no dirigível. 

Todos esses dias custaram-lhe somente duas moedas de ouro, no entretanto, não sabia o preço de serva ou servo, e temia passar vergonha por não ter o bastante para o contrato tencionado. 

— Sei. — a preocupação com o conhecido foi-se como se nunca existido. Seria o jovem, interesseiro ou desvairado? Poderia ser amigo, até bom amigo, do segundo tipo, porém, o primeiro lhe afligia, tornava-lhe as entranhas como águas. — No que está metido? 

— Em qualquer coisa que não gostaria. Preciso contratar um servo. — com um servo, pensava Tíwaz, Yorranna voltaria para o chalé dela, teria alguém para manter a lareira acesa e o lixo no devido lugar. 

— Que há com os seus? 

— Não há. 

— Compreendo. Gostava dos afazeres domésticos por si mesmo, como aquelas pessoas que arrumam a própria cama, e discursam sobre isso. 

— Não, e não me confunda com essas pessoas. — riu Tíwaz de forma genuína. Apreciava a companhia daquele estranho, e só se deu conta disso ao confessar parte do que passava. — É para íntimo amigo que tem questões pessoais, e acabou restrito de pensão. 

— Vai emprestar ouro? Dizem que ou se perde o ouro, ou se perde o amigo. 

— Sem empréstimos. É singela doação a alguém que aprecio a companhia. Se há mal em estender a mão a esse, que antes me estendeu, que sejam proliferados os males. 

— De fato. — e declamou o lema dos D' Cecil. — Se está disposto a pagar o preço, todo crime vale a pena. — e ofertou de bom grado. — Podemos nos encontrar, levo-te ao leilão. 

— Leilão? 

— De fato. De jovens para todas as funções do lar. Nascidas em Marés, filhas de servos locais que nunca conheceram a terra firme. Conservam ilusões sobre o mundo lá de baixo. Como se aqui, e não em si, residissem seus óbices. Algumas são capazes de tudo, em troca da viagem após a formatura. São famosas por não recusar, e até incentivar, os senhores. Afinal, a pensão de promíscuo nobre vale mais, por estação, que ano de labuta indigesta e escrupulosa nas fábricas cancerígenas. 

— Não preciso de tanto, é meu conhecido praticante de rezas e orações, de castidade fez régio ninhário. 

— E não somos todos iguais? Até ter a ninfa amante a cavalgar-nos. Vamos, onde te colocaram mesmo? 

— Andar trezentos e noventa e sete na… — concordou Tíwaz, e tomou-o a inquietude após passar o endereço. 

Depois dos treinamentos no dia seguinte, esperou por Donatien e esse não veio. 

Passou para comprar os legumes do dia, e frutos do mar, que em piscicultura eram criados em lagos artificiais, na parte central de Boa Vila, pouco antes do Distrito de Carvalho. 

Carregando as bolsas com as aquisições, Tíwaz desceu a escadaria de metal do teleférico. 

Profundas rachaduras tinham flocos de neve, tremeluzentes na escuridão dos subterrâneos. 

Ali ele esperou por Yorranna e reparou, enxergava perfeitamente, o túnel que antes era breu revelava-se por completo. A visão dele não era mais humana. 

Era incomum que se atrasasse, sendo habitual que ela o esperasse. 

Assim ele explorou a abandonada cabine, com vetustos equipamentos, teias de aranha e morcegos adormecidos. 

Ele sempre quis ver o que havia naquela sala esquecida. 

E, exceto pelas tábuas e o telhado parcialmente desmoronado, nada diferia do esperado, ruínas e maquinários abandonados. 

A fhauren o chamou, e eles, em silêncio, voltaram para casa. 

Enquanto ela se banhava, ele preparou o jantar.

Quando o telefone tocou, fez-se Donatien em desculpas sinceras. 

Estava irritado, e explicou que participaria de inesperado torneio em dois dias, o que significava isolamento até lá. 

O libertino não deixaria a sala de treinamento com Irvine e a duo, a fhauren, condessa, que Gremory casualmente chamava, contra a vontade da mesma, de Ancas. 

Para ajudar o amigo, Pomarola foi incumbida de levar o recurso e acompanhá-lo ao leilão no dia seguinte. 

A ligação foi encerrada pela metade, com Irvine aos gritos explicando sobre a importância da concentração. 

Preocupados com a demora quando as horas passaram e a tempestade de neve apertou, saíram os dois, para esperar por Pomarola do lado de fora. 

Quando chegou na carruagem alugada, a serva de Donatien não questionou a presença da fhauren. Sabia portar-se, e guardava segredos em muito piores. 

Não tocaram no assunto de uma mulher dormir entre eles, e compartilharam cobertas durante a noite glacial, iluminada pela fogueira acalentadora. 

Sentiram fome, e olharam-se, com a humana respirando profundamente, sem desconfiar que pensamentos diferentes começavam a surgir na mente dos dois vampiros ao lado dela. 

Tíwaz ouviu cada batida do coração de Pomarola, e Yorranna, a metros de distância, sentiu até mesmo os pulsos da serva indefesa. 

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